a
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s. m. || a primeira letra do abecedário da língua portuguesa e de muitas outras. || (Mús.) A nota lá, na mais antiga notação musical, a alfabética, ainda hoje em uso, especialmente na Inglaterra, Estados Unidos e Alemanha. || (Quím.) Símbolo do argônio. || (Alg.) Símbolo da quantidade que se supõe conhecida. || (Dialét.) Símbolo da proposição universal afirmativa. || (Alq.) A pedra filosofal. || (Astr.) A estrela principal de uma constelação. || (Fil. mod.) Representa o absoluto. || (Num. grega) | (com acento superior: 1. 000). || (Geom.) Indica linha, ângulo ou parte de uma figura. || (Liturg. ant.) Designa o domingo, nos livros de ofício. || A primeira letra dominical do calendário juliano. || (Abrev.) Aceite. Alfa. Alteza. Ampère(s). Aprovado. Are(s). Artilharia. Assinado. Augusto. Autor. (V. Registro de Abreviaturas no V volume deste dicionário.) || (Fís.) Indica aceleração. || Provar por A mais B, demonstrar (matematicamente). || Do A a Z, de alfa a ômega, do princípio ao fim, completamente. || Esta letra tem quatro valores: á aberto, â fechado, a átono e ã nasalado. [Na pronúncia brasileira não ocorre o a grave português (â) de palavras como câsamento, gâmão, etc., e são proferidas com timbre aberto: cásamento, gámão, etc.] Representa a voz mais clara e bela da linguagem, e a predominante nas línguas primitivas indo-europeias, sendo, entre as romanas, a portuguesa aquela em que mais predomina. A acumulação desta voz é de um belo efeito onomatópico; imprime á frase um ar festival, mui próprio para manifestar sentimentos de entusiasmo. Que ótimo efeito produz a repetição desta voz nos versos por que começa a magna epopeia lusitana: As armas e os barões assinalados, Que da ocidental praia lusitana, Por mares nunca dantes navegados, Passaram ainda além da Taprobana;... (L. DE CAMÕES - Lusíadas, I, 1.) No seguinte sublime trecho: Pela última vez, co'a espada em punho Rutilante na pugna se arremessa Seu braço é tempestade, a espada é raio!... Mas invencível mão lhe toca o peito! É a mão do Senhor! barreira ingente; Basta, Guerreiro! Tua glória é minha; Tua força em mim está. Tens completado Tua augusta missão. És homem; - para. (D. J. G. DE MAGALHÃES - Ode a Napoleão. ) Não é so o grandioso da ideia que os torna um dos mais belos trechos da literatura portuguesa, mas a esplêndida onomatopeia. Para evitar o hiato que resulta do encontro de dois aa aglutinam-se estas vozes pela figura crase nos seguintes casos: 1º (na escrita) quando concorre a prep. a com o art. f., á por aa; 2º (na escrita) ao contrair-se a prep. a com os pron. aquele, aquela, aqueles, aquelas, aquilo; 3º (no som) quando se encontra a prep. para com o art. a; 4º (no som) o art. comp. na com uma palavra, cuja sílaba inicial é a voz a: para a ilusão ser mais completa; para a ilusão ser mais completa; - ocultou-se na abóbada; ocultou-se n'abóbada. Fonol. Esta voz, nas sílabas acentuadas, subsiste em regra nas palavras derivadas do latim. Em muitas permuta-se em e espargo (asparagus), Tejo (Tagus), cereja (cerasium). Em o: outro (alter), fome (fames), grosso (crassus), ceroto (ceratum), bolor (pallor), cova (cavea), pomba (palumba). Em ei: beijo (basium), coleira (collaria), queijo (caseus), eira (area). Em ou: souto (saltus), papoula (papaver). caí no princípio de algumas palavras: ligeiro (aliger), diamante (adamas), chegar (applicare), poupa (apupa). Acrescenta-se no princípio de outras: apostila (postilla), aleijão (laesio), abrunho (prunum), arrombar (rumpere), apalpar (palpare), aplanar (planare). [Nota da 3º ed. - Esta doutrina não pode subsistir inteiramente, em virtude de posteriores investigações aconselharem as alterações seguintes nas etimologias de algumas das palavras citadas: cereja (ceresia), ceroto (cerotum), cova (talvez de covo), coleira(colo), ligeiro (talvez de leviarius, ou pelo fr. léger), chegar (plicare) poupa (upupa), abrunho, (pruneu-), arrombar (a+rombo+ar). Quanto a outro, de alter e souto, de saltus, a "permutação" é a mesma pelo que respeita a al > ou. ] Ortogr. Esta letra também se pode escrever á: um á. dois ás. V. AA.
F. lat. A.
a 2 adj. || primeiro. Emprega-se esta letra em lugar do primeiro algarismo de ordem: livro A, caderno A, isto é, livro primeiro, caderno primeiro. Junta a um algarismo designa o primeiro número de uma série secundária camarote 5, camarote 5-A. || Designa a melhor qualidade ou primeira categoria em algumas classificações. || A-1 1. (Mar.) da mais alta classe (tratando-se de embarcações arroladas no Lloyd's Register).
a 3 art. f. sing. || e pron. V. O2.
a 4 prep. || esta preposição é de todas a mais vaga, a mais indeterminada e a menos especificativa. As suas acepções fundamentais são: exprimir a relação de direção, fim, lugar onde (físico ou virtual), proveito, dano, modo: Encaminhou-se às casas da Câmara; ao mesmo tempo chegavam outros fidalgos ás portas da casa da suplicação. (Reb. da Silva.) Dar instrução aos ignorantes é fazer cidadãos livres; - o deficit da inteligência é mais prejudicial aos povos que o deficit do orçamento. || A predileção que a raça latina tem por esta preposição, faz que se encontre empregada como equivalente de quase todas as mais preposições; em: chegou à fortaleza meia hora antemanhã ao dia de Nossa Senhora (Dic. Acad. Lisb. ) [em vez de em o dia] ; para: acaba de viver a si e começa a viver para os outros (H. Pinto); com: Quando Madalena esta manhã não achou o corpo do Senhor, que buscava na sepultura, veio a toda a diligência dar conta a S. Pedro. ( Vieira ) ; para com: indiferente aos perigos; segundo. conforme Deus fez o homem á sua imagem; sobre estar a cavalo; por uma a uma etc. Nestes diversos empregos ela não constitui uma sinonímia absoluta. Os sinonimistas, se fiéis zeladores da pureza e rigor da língua, assinam-lhe profundas diferenças, que em seus lugares apresentaremos. Quando se diz que uma preposição é sinônima de outra, deve-se entender sempre que o é parcialmente, que não se pode substituir em todas as hipóteses. Em muitas frases o uso tem prevalecido à gramática, empregando esta preposição em vez da própria, pela sua radical significação Lá no cimo, um moinho bracejando e cantando no trabalho, enquanto o dono à janela escuta ocioso a viração de Deus, que lhe está chovendo pão lá dentro. ( Visc. de Castilho. ) Nas mãos de Péricles, à sombra da liberdade, a civilização assumiu um esplendor que maravilha. (Dr. Tom. de Carvalho.) Afonso I veio a falecer a 6 de dezembro de 1185. (Alex. Hercul.) Coisa geral a todos os príncipes quererem ser rogados ao modo das mulheres. (J. de Barros.) A primeira resolução de David, quando viu a Saul, só e sem defesa, foi cosê-lo ali às facadas. (Vieira.) -, Antes de uma linguagem do infinito com os verbos auxiliares estar, andar e outros, constitui a forma perifrástica, que também se constrói (e preferentemente, no Bras.) com gerúndio: Estou a estudar, estou estudando; andei a estudar, andei estudando. Passo noites inteiras em claro a lidar nisto, e a lembrar-me de quantas palavras vos tenho ouvido, e a meu pai; e a pensar em tudo. ( Garrett. ) || Depois de certos adjetivos serve para lhes precisar a significação: Agradável a cantar, pronto a responder, gracioso a dançar. || Com esta preposição formam-se complementos diretos (objetivos), indiretos e circunstanciais. Na formação dos diretos os gramáticos só aconselham o emprego desta preposição, quando o complemento for pessoa ou coisa personificada, e da sua omissão, resultar ambiguidade para a frase: Bruto assassinou a César. A Pompeu venceu César. Aconselham-na também, quando concorre para dar mais força à frase. Convidava o papa ao arcebispo a jantar. ( Fr. L. de Sousa. ) Amar a Deus e ao próximo como a vós mesmos. Pintaram os antigos ao amor menino, porque nenhum amor dura tanto, que chegue a ser velho. (Vieira.) A melhor traça para acrescentar nossos bens é socorrer com eles aos pobres. (Idem.) || Para a formação dos complementos indiretos e circunstanciais nenhuma regra há estabelecida; só a leitura atenta dos mestres da língua poderá dirigir o leitor nesta parte. O processo mecânico de consultar o ouvido, tantas vezes usado por brasileiros e portugueses, não é aplicável, em geral, ao emprego das preposições. || Os nossos clássicos principiam grande número de frases elípticas por esta preposição com um som aberto, o que lhes dá grande força e brilho: Á fé de cavaleiro! á face do céu e da terra! à memória de seus feitos! à saúde de el-rei! ás armas! || Com ela se forma grande número de frases adverbiais: À mingua; à boamente; à revelia Como o professar a vida monástica é enterrar-se, se quiserdes na comida ter vantagem, podervos-ão dizer que vos sepultastes à mourisca ou à gentílica, com banquetes na cova. (Fr. L. de Sousa.) || Os clássicos não empregavam a preposição a depois da preposição até: Neste exercício gastaram até o princípio da Quaresma. (Balt. Teles.) Vendo ora o mar até o inferno aberto. (Camões.) [Nota da 3ª ed. Rui Barbosa, na Réplica, apresentou exemplos clássicos.] Hoje diz-se: Até ao princípio, até ao inferno. A prep. precedida e seguida do mesmo vocábulo, exprime sucessão, ordem Gota a gota; - três a três; - palmo a palmo. V. preposição.
a 2 adj. || primeiro. Emprega-se esta letra em lugar do primeiro algarismo de ordem: livro A, caderno A, isto é, livro primeiro, caderno primeiro. Junta a um algarismo designa o primeiro número de uma série secundária camarote 5, camarote 5-A. || Designa a melhor qualidade ou primeira categoria em algumas classificações. || A-1 1. (Mar.) da mais alta classe (tratando-se de embarcações arroladas no Lloyd's Register).
a 3 art. f. sing. || e pron. V. O2.
a 4 prep. || esta preposição é de todas a mais vaga, a mais indeterminada e a menos especificativa. As suas acepções fundamentais são: exprimir a relação de direção, fim, lugar onde (físico ou virtual), proveito, dano, modo: Encaminhou-se às casas da Câmara; ao mesmo tempo chegavam outros fidalgos ás portas da casa da suplicação. (Reb. da Silva.) Dar instrução aos ignorantes é fazer cidadãos livres; - o deficit da inteligência é mais prejudicial aos povos que o deficit do orçamento. || A predileção que a raça latina tem por esta preposição, faz que se encontre empregada como equivalente de quase todas as mais preposições; em: chegou à fortaleza meia hora antemanhã ao dia de Nossa Senhora (Dic. Acad. Lisb. ) [em vez de em o dia] ; para: acaba de viver a si e começa a viver para os outros (H. Pinto); com: Quando Madalena esta manhã não achou o corpo do Senhor, que buscava na sepultura, veio a toda a diligência dar conta a S. Pedro. ( Vieira ) ; para com: indiferente aos perigos; segundo. conforme Deus fez o homem á sua imagem; sobre estar a cavalo; por uma a uma etc. Nestes diversos empregos ela não constitui uma sinonímia absoluta. Os sinonimistas, se fiéis zeladores da pureza e rigor da língua, assinam-lhe profundas diferenças, que em seus lugares apresentaremos. Quando se diz que uma preposição é sinônima de outra, deve-se entender sempre que o é parcialmente, que não se pode substituir em todas as hipóteses. Em muitas frases o uso tem prevalecido à gramática, empregando esta preposição em vez da própria, pela sua radical significação Lá no cimo, um moinho bracejando e cantando no trabalho, enquanto o dono à janela escuta ocioso a viração de Deus, que lhe está chovendo pão lá dentro. ( Visc. de Castilho. ) Nas mãos de Péricles, à sombra da liberdade, a civilização assumiu um esplendor que maravilha. (Dr. Tom. de Carvalho.) Afonso I veio a falecer a 6 de dezembro de 1185. (Alex. Hercul.) Coisa geral a todos os príncipes quererem ser rogados ao modo das mulheres. (J. de Barros.) A primeira resolução de David, quando viu a Saul, só e sem defesa, foi cosê-lo ali às facadas. (Vieira.) -, Antes de uma linguagem do infinito com os verbos auxiliares estar, andar e outros, constitui a forma perifrástica, que também se constrói (e preferentemente, no Bras.) com gerúndio: Estou a estudar, estou estudando; andei a estudar, andei estudando. Passo noites inteiras em claro a lidar nisto, e a lembrar-me de quantas palavras vos tenho ouvido, e a meu pai; e a pensar em tudo. ( Garrett. ) || Depois de certos adjetivos serve para lhes precisar a significação: Agradável a cantar, pronto a responder, gracioso a dançar. || Com esta preposição formam-se complementos diretos (objetivos), indiretos e circunstanciais. Na formação dos diretos os gramáticos só aconselham o emprego desta preposição, quando o complemento for pessoa ou coisa personificada, e da sua omissão, resultar ambiguidade para a frase: Bruto assassinou a César. A Pompeu venceu César. Aconselham-na também, quando concorre para dar mais força à frase. Convidava o papa ao arcebispo a jantar. ( Fr. L. de Sousa. ) Amar a Deus e ao próximo como a vós mesmos. Pintaram os antigos ao amor menino, porque nenhum amor dura tanto, que chegue a ser velho. (Vieira.) A melhor traça para acrescentar nossos bens é socorrer com eles aos pobres. (Idem.) || Para a formação dos complementos indiretos e circunstanciais nenhuma regra há estabelecida; só a leitura atenta dos mestres da língua poderá dirigir o leitor nesta parte. O processo mecânico de consultar o ouvido, tantas vezes usado por brasileiros e portugueses, não é aplicável, em geral, ao emprego das preposições. || Os nossos clássicos principiam grande número de frases elípticas por esta preposição com um som aberto, o que lhes dá grande força e brilho: Á fé de cavaleiro! á face do céu e da terra! à memória de seus feitos! à saúde de el-rei! ás armas! || Com ela se forma grande número de frases adverbiais: À mingua; à boamente; à revelia Como o professar a vida monástica é enterrar-se, se quiserdes na comida ter vantagem, podervos-ão dizer que vos sepultastes à mourisca ou à gentílica, com banquetes na cova. (Fr. L. de Sousa.) || Os clássicos não empregavam a preposição a depois da preposição até: Neste exercício gastaram até o princípio da Quaresma. (Balt. Teles.) Vendo ora o mar até o inferno aberto. (Camões.) [Nota da 3ª ed. Rui Barbosa, na Réplica, apresentou exemplos clássicos.] Hoje diz-se: Até ao princípio, até ao inferno. A prep. precedida e seguida do mesmo vocábulo, exprime sucessão, ordem Gota a gota; - três a três; - palmo a palmo. V. preposição.
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