s. f. || (anat.) órgão muscular, achatado, oblongo e móvel, situado na cavidade bucal, a cuja parede posterior se acha preso pela sua base. [É o órgão da degustação, da deglutição e o principal do aparelho fonador ou da fala] : Mal vi o teu rosto, o sangue gelou-se, a língua prendeu-se. ( T. Antº Gonzaga , Marília , I, 4, p. 15, ed. 1824.) || (Fig.) Sistema de palavras com que se explicam os pensamentos; qualquer das variedades da linguagem; idioma; linguagem. [As línguas compreendem-se quase todas em dois grandes grupos: 1º, indo-europeias ou áricas, a que pertence o sânscrito, o grego, etc.; 2º, semíticas, a que pertence o árabe, o hebraico, etc. Sob o ponto de vista morfológico dividem-se as línguas em monossilábicas (em que as raízes permanecem invariáveis e a formação das palavras depende da sua posição, como sucede na chinesa), aglutinantes (em que duas raízes se unem para formar uma palavra) e línguas de flexão (em que a raiz principal de uma palavra e as suas desinências admitem alterações fônicas)] : Oftalmia, asma, ditirambo... são formas naturais, corretíssimas em duas línguas irmãs da nossa. ( Mário Barreto , Novos Estudos , c. 4, p. 70, ed. 1921.) || O conjunto das regras a que está sujeito um idioma: Não sabe a sua língua e por isso fala e escreve mal. || O conjunto das palavras, das frases distintas e características com a maleabilidade gramatical e fraseologia que um autor imprime aos seus discursos; estilo: A língua de Horácio; a língua de Camões. || Modo de falar independente do idioma empregado; expressão: A poesia é a língua harmoniosa do espírito quando a dor, o entusiasmo ou a esperança o elevam acima da prisão de limos do nosso desterro. ( R. da Silva. ) || Sistema de sinais apropriados a uma notação: A língua da música, da matemática, etc. || Linguagem, fala: A calúnia foi sempre a tua língua e a inveja o teu espírito. ( R. da Silva. ) || A língua de certos animais preparada pelos processos culinários: Língua de vaca, de carneiro. || A lingueta ou o fiel da balança. || (Zool.) A tromba ou sugadouro dos insetos lepidópteros. || Língua de água 1. ou língua das ondas, a porção de mar junto à praia que anda na saca e ressaca. || Língua de areia 1. longa faixa de areia que fica sobreaguada e se mete pelo mar. || Língua de terra 1. porção estreita de terra entre dois mares ou rios: istmo. || Línguas de fogo 1. labaredas, chamas; (teol.) cada uma das labaredas que baixaram sobre as cabeças dos discípulos de Jesus Cristo no dia de Pentecostes: Chamas subiam trêmulas, em línguas lívidas. ( Coelho Neto , Água de Juventa , c. 1, p. 10, ed. 1921.) || V. língua de gato. || Língua franca. V. franco1 || Língua negra. V. glossofitia. || Língua mãe 1. a língua ou idioma donde outra deriva na sua parte principal: O latim é a língua mãe do português. || Língua dos maldizentes 1. dos caluniadores, a calúnia, o falso testemunho: Assim se foi entretendo parte por não espertar línguas de caluniadores, prontas sempre a julgar mal dos negócios que menos entendem. (Fr. L. de Sousa.) Quem ganhava com essas histórias eram as línguas dos maldizentes. (Herc.) || Língua morta 1. o idioma que já não é comumente falado por nação ou povo algum: O grego antigo e o latim são línguas mortas. || Língua viva 1. a que é comumente falada por qualquer nação ou povo (opõe-se a língua morta). || Com língua de palmo 1. malgrado, contra vontade: Há de com língua de palmo largar o que chamou seu. (Castilho.) Pagar com língua de palmo. || Com língua de palmo e meio 1. o mesmo que com língua de palmo: O que ele acaba de fazer comigo, há de pagar-me com língua de palmo e meio. (Franclim Távora, Matuto, c. 20, p. 228, ed. 1902.) || Língua pendente 1. (hip.), exposição amiudada e algumas vezes permanente da língua fora da boca e que faz com que se desperdice a saliva necessária à digestão. || Língua de prata 1. a lingueta da fechadura. || Língua primitiva. V. primitivo. || Língua serpentina 1. (hip.), diz-se da língua do cavalo quando apresenta o defeito de sair amiudadamente da boca. || Língua viperina 1. ruim língua, língua danada, língua depravada, língua má, pessoa maldizente ou que passa a vida a dizer mal de tudo e de todos; caluniador: Todas as pregações e remoques do padre prior não haveriam podido fazer perder aquela língua danada do Bartolomeu. (Herc.) || V. má-língua. || V. meia-língua. || Dar à língua 1. taramelar, falar sem precisão para satisfazer ao hábito de palrar; tagarelar: Deu à língua, gabou-se de um triunfo imaginário. (Per. da Cunha.) Outros se deixaram ficar ainda a beber e a dar à língua. (Aloísio Azevedo, Girândola, c. 6, p. 52.) || Dar com a língua nos dentes. V. dente. || Dar de língua 1. (Bras.) o mesmo que dar à língua. || Dom das línguas 1. poliglotismo, disposição orgânica para falar muita variedade de idiomas. || Dobrar a língua 1. corrigir o que se acaba de dizer; tratar ou falar com respeito (Bras.). || Trocar língua 1. (Bras.) conversar, palestrar. || Não ter papas na língua 1. dizer tudo como é ou foi; falar sem rodeios, dizer tudo o que sabe. || Não ter mais que língua 1. ser falador ou maldizente; ser poltrão: Olha quem! quem não tem mais que língua! (D. Franc. Man.) || Pegar-se a língua 1. a alguém, não ocorrer a alguém o que tem para dizer; tartamudear; gaguejar. || Pela língua 1. (ou pela boca) morre o peixe, diz-se de uma pessoa que sofre as consequências daquilo que disse contra outrem ou da sua imprudência no falar. || Solto de língua 1. linguareiro, chocalheiro, inconveniente no falar; indiscreto. || Tomar língua 1. informar-se, averiguar: Quis certificar-se e tomar língua do que havia. (Fr. L. de Sousa.) || Ter a língua grossa 1. estar bêbedo. || Ter alguma palavra ou frase debaixo da língua, estar quase a lembrar-se de uma palavra ou frase que momentaneamente esqueceu; dar tratos à memória para se recordar dela. || Ter alguma coisa na ponta da língua, sabê-la a fundo, de cor e salteada. || Ter a língua pouco limpa 1. usar de palavras grosseiras e indecentes. || Tirar ou puxar pela língua a alguma pessoa, provocá-la, chamá-la para a disputa ou para a maledicência, obrigá-la disfarçadamente a revelar o que sabe a respeito de qualquer assunto. || Língua d'oc 1. ou de oc, língua antiga, hoje dialeto, falado na região do Languedoc, caracterizado por sim se dizer oc, em oposição ao norte da França, onde sim se dizia ouil (hoje oui), falando-se por isso, a língua de oil. || -, s. m. intérprete, trugimão. || -, s. m. e f. pessoa que fala muito: Joca barbeiro, que só trabalhava nos dias de feira, passava horas... por ali. Era o maior língua do Açu. De tudo sabia. ( Lins do Rego , Pedra Bonita , c. 4, p. 44, ed. 1938.)
F. lat. Lingua.
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