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05.03 Termos Essenciais da Oração

Sujeito e predicado

  • 1. São termos essenciais da oração o sujeito e o predicado.
  • Sujeito é o ser sobre o qual se faz uma declaração.

    Predicado é tudo aquilo que se diz do sujeito.

  • Assim, na oração:
  • O galo velho olhou de novo o céu. (M. Palmério)

  • temos:
  • sujeito: O galo velho;
  • predicado: olhou de novo o céu.

  • 2. Apesar de serem termos essenciais da oração, o sujeito e o predicado não precisam vir materialmente expressos. Assim, nos exemplos:
  •    Adormeci num grande desânimo. (A. F. Schmidt)
       No céu azul, dois fiapos de nuvens. (A. F. Schmidt)

    o sujeito de adormeci é eu, indicado apenas pela desinência verbal. No segundo exemplo, é o verbo da oração que está subentendido.

    Diz-se, conforme o caso, que o sujeito ou o predicado estão elípticos ou ocultos.

O sujeito

Representação do sujeito


Os sujeitos da 1ª e da 2ª pessoa são, respectivamente, os pronomes pessoais eu e tu, no singular; nós e vós (ou combinações equivalentes: eu e tu, tu e ele, etc.), no plural.

   Os sujeitos da 3ª pessoa podem ter como núcleo:
  • a) um substantivo:
  • Fabiano contava façanhas. (G. Ramos)

  • b) os pronomes pessoais ele, ela (singular); eles, elas (plural):
  • Ele se irá, creio, mas ficará ela. (M. de Assis)

  • c) um pronome demonstrativo, relativo, interrogativo, ou indefinido:
  •     Aquilo é terra benta. (J. C. de Carvalho)
        Qual é o caminho que leva ao teu país? (R. Couto)
        Quem encabeçou o movimento? (A. de A. Machado)
        Ninguém traz a menor notícia. (A. M. Machado)

  • d) um numeral:
  • Onde comem dois comem três. (G. Ramos)

  • e) uma palavra ou uma expressão substantivada:
  •     O humilde não teme julgamento alheio. (G. Amado)
        O por fazer é só com Deus. (F. Pessoa)

  • f) uma oração:
  • É provável que ela case outra vez. (M. de Assis)


Sujeito simples

Quando o sujeito tem apenas um núcleo, isto é, quando o verbo se refere a um só substantivo, ou a um só pronome, ou a um só numeral, ou a uma só palavra substantivada, ou a uma só oração substantiva, o sujeito é simples. Esse o caso dos sujeitos atrás mencionados.


Sujeito composto

É composto o sujeito que tem mais de um núcleo, ou seja, o sujeito constituído de:

  • a) mais de um substantivo:
  • Vozes, risos e palmas vieram lá de baixo. (E. Veríssimo)

  • b) mais de um pronome:
  • E assim galgamos ele e eu o rochedo. (J. Ribeiro)

  • c) mais de uma palavra ou expressão substantivada:
  • Falam por mim os abandonados de justiça, os simples de coração. (C. D. de Andrade)

  • d) mais de um numeral:
  • Passavam devagar, em fila, seis ou sete. (G. Amado)

  • e) mais de uma oração:
  • Era melhor esquecer o nó / e pensar numa cama igual à de seu Tomás da bolandeira. (G. Ramos)


Sujeito oculto (determinado)

É aquele que não está materialmente expresso na oração, mas pode ser identificado:

  • a) pela desinência verbal:
  • Gosto de chuva, Pedro. (L. Jardim)

  • O sujeito de gosto, indicado pela desinência -o, é o pronome eu.
  • b) pela presença do sujeito em outra oração do mesmo período ou de período contíguo:
  • O funcionário riu com esforço, e despediu-se enojado. Entrou numa livraria. (A. M. Machado)

  • O sujeito de riu e despediu-se é o funcionário, mencionado apenas na primeira oração, antes de riu. E é também o sujeito do verbo entrou, pertencente ao período seguinte.

Sujeito indeterminado

Quando o verbo não se refere a uma pessoa determinada, ou por se desconhecer quem executa a ação, ou por não haver interesse no seu conhecimento, diz-se que o sujeito é indeterminado. Nestes casos, põe-se o verbo:

  • a) ou na 3ª pessoa do plural:
  • Anunciaram que você morreu. (M. Bandeira)

  • b) ou na 3ª pessoa do singular, com o pronome se:
  • Não se falava dele no Ateneu. (R. Pompeia)


Oração sem sujeito

Não deve ser confundido o sujeito indeterminado, que existe, mas não se pode ou não se deseja identificar, com a inexistência do sujeito.

Em orações como as seguintes:

    Chove. Anoitece. Faz frio.

interessa-nos o processo verbal em si, isto é, o predicado, pois este não se refere a nenhum sujeito, já que não o atribuímos a nenhum ser. Diz-se, então, que o verbo é impessoal; e o sujeito, inexistente.

Eis os principais casos de oração sem sujeito:


  • a) com verbos ou expressões que denotam fenômenos da natureza:
  • De noite choveu muito. (J. Montello)

  • b) com o verbo haver na acepção de "existir":
  • flores, vidros, luz e sombra na casa das seis mulheres. (R. Braga)

  • c) com o verbo haver, quando indica tempo decorrido:
  • Já estou aqui dois dias. (J. G. Rosa)

  • d) com os verbos ser, fazer e ir, na indicação de tempo em geral:
  •      Era inverno na certa no alto sertão. (J. L. do Rego)
         Aí vai esse poema escrito faz um ano. (M. de Andrade)
         Vai para uns quinze anos escrevi uma crônica do Curvelo. (M. Bandeira)

Da atitude do sujeito

Com os verbos de ação

Quando o verbo exprime uma ação, a atitude do sujeito com referência ao processo verbal pode ser de atividade, de passividade, ou de atividade e passividade ao mesmo tempo.

  • 1. Neste exemplo:
  • Sílvia cobriu os olhos com as mãos. (O. L. Resende)

    o sujeito Sílvia executa a ação expressa pela forma verbal cobriu. O sujeito é, pois, o agente.

  • 2. Neste exemplo:
  • A população do globo foi aumentada pelos dois em escala razoável. (C. D. de Andrade)

    o sujeito a população do globo não pratica a ação. O sujeito, no caso, sofre a ação; é dela o paciente.

  • 3. Neste exemplo:
  • Vestiu-se às pressas assobiando trechos do Trovador. (M. Bandeira)

    A ação é simultaneamente exercida e sofrida pelo sujeito ele, que é, a um tempo, o agente e o paciente dela.


Com os verbos de estado


Quando o verbo evoca um estado, a atitude da pessoa ou da coisa que dele participa é de neutralidade. O sujeito, no caso, não é o agente nem o paciente, mas a sede do processo verbal, o lugar onde ele se desenvolve:

    A prova é esta carta. (C. D. de Andrade)
    O mar está muito calmo. (R. Braga)
    Os caixotes continuam fechados. (J. Montello)
    O gás anda fraquíssimo. (C. D. de Andrade)

O predicado

O predicado pode ser nominal, verbal ou verbo-nominal.


Predicado nominal


O predicado nominal é formado por um verbo de ligação + predicativo do sujeito.


1. O verbo de ligação

Os verbos de ligação servem para estabelecer a união entre duas palavras ou expressões de caráter nominal. Não trazem propriamente ideia nova ao sujeito; funcionam apenas como elo entre este e o seu predicativo.

Os verbos de ligação podem expressar:

  • a) estado permanente:
  • O fato é vulgaríssimo. (E. da Cunha)

  • b) estado transitório:
  • Os caboclos estavam desconfiados. (G. Ramos)

  • c) mudança de estado:
  • Fiquei sensibilizadíssimo. (D. S. de Queirós)

  • d) continuidade de estado:
  • O rapaz continua indeciso. (C. D. de Andrade)

  • e) aparência de estado:
  • Os olhos pareciam uma posta de sangue. (J. A. de Almeida)


2. O predicativo do sujeito

Predicativo do sujeito é o termo do predicado nominal que se refere diretamente ao sujeito.

Pode ser representado por:

  • a) substantivo ou expressão substantivada:
  •     Eras marido e filho? (M. Bandeira)
        Não, eu não era o 301. (F. Sabino)

  • b) adjetivo ou locução adjetiva:
  • Ele ficou pasmo, sem palavras. (C. D. de Andrade)

  • c) pronome:
  • Nunca fora nada na vida... (M. Lobato)

  • d) numeral:
  • Duas são as representações elementares do agradável realizado. (R. Pompeia)

  • e) oração:
  • O pior é que parti os óculos. (O. L. Resende)


Predicado verbal

O predicado verbal tem como núcleo, isto é, como elemento principal da declaração que se faz do sujeito, um verbo significativo.

Verbos significativos (ou nocionais) são aqueles que trazem uma ideia nova ao sujeito. Podem ser intransitivos e transitivos.

Verbos intransitivos

Nesta oração:

Cedo, a noite caía. (J. Montello)

verificamos que a ação está integralmente contida na forma verbal caía. Tal verbo é, pois, intransitivo, ou seja, não transitivo: a ação não vai além do verbo.


Verbos transitivos

Nestas orações:

— Não tenho dinheiro. O Senhor te abençoe. (M. Bandeira)

vemos que as formas verbais tenho e abençoe exigem uma palavra para completar-lhes o significado. Como o processo verbal não está integralmente contido nelas, mas se transmite a outro elemento (o substantivo dinheiro e o pronome te), estes verbos se chamam transitivos.

Os verbos transitivos podem ser diretos, indiretos, ou diretos e indiretos ao mesmo tempo.

  • 1. Verbos transitivos diretos.
  • Nestas orações:

    Abrirei o portão. Verei meu filho? (O. Lins)

    A ação expressa por abrirei e verei se transmite a outros elementos (o portão e meu filho) diretamente, ou seja, sem o auxílio de preposição. Por isso, são chamados transitivos diretos, e o termo da oração que lhes integra o sentido recebe o nome de objeto direto.


  • 2. Verbos transitivos indiretos.
  • Nestes exemplos:

        A população da Vila assistia ao embarque. (M. Palmério)
        Um poeta, na noite morta, não necessita de sono. (C. Meireles)

    a ação expressa por assistia e necessita transita para outros elementos da oração (o embarque e sono) indiretamente, isto é, por meio das preposições a e de. Tais verbos são, por conseguinte, transitivos indiretos. O termo da oração que completa o sentido do verbo transitivo indireto denomina-se objeto indireto.


  • 3. Verbos transitivos diretos e indiretos.
  • Nestes exemplos:

        Capitu preferia tudo ao seminário.
        Não lhe arranquei mais nada. (M. de Assis)

    A ação expressa por preferia e arranquei transita para outros elementos da oração, a um tempo, direta e indiretamente. Por outras palavras: estes verbos requerem simultaneamente objeto direto e objeto indireto para completar-lhes o sentido.


    Observação:

    Como há verbos que se empregam ora como de ligação, ora como significativos, convém atentar sempre no valor que apresentam em determinado texto para classificá-los com acerto.Comparem-se, por exemplo, as frases:

    Estavas pensativa. Estavas no colégio.
    Andei muito feliz. Andei dez quilômetros.
    Fiquei assustado. Fiquei em casa.
    Continuamos alegres. Continuamos o passeio.

    Na primeira coluna, os verbos estar, andar, ficar e continuar são verbos de ligação; na segunda, verbos significativos ou nocionais.

Predicado verbo-nominal

Não apenas os verbos de ligação se constroem com predicativo do sujeito. Também verbos significativos podem ser empregados com ele.

Neste exemplo:

As fisionomias respiram aliviadas... (L. Barreto)

o verbo respirar é significativo, e aliviadas refere-se a fisionomias, de que é uma qualificação.

A este predicado misto, que possui dois núcleos significativos (um verbo e um predicativo), dá-se o nome de verbo-nominal.


Variabilidade de predicação verbal

A análise da transitividade verbal é feita de acordo com o texto e não isoladamente. O mesmo verbo pode estar empregado ora intransitivamente, ora transitivamente; ora com objeto direto, ora com objeto indireto. Comparem-se estes exemplos:

Perdoai sempre [= intransitivo].
Perdoai as ofensas [= transitivo direto].
Perdoai aos inimigos [= transitivo indireto].
Perdoai as ofensas aos inimigos [= transitivo direto e indireto].