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19.02 Sinais que marcam sobretudo a melodia


Os dois-pontos

Os dois-pontos servem para marcar, na escrita, uma sensível suspensão da voz na melodia de uma frase não concluída. Empregam-se, pois, para anunciar:

  • 1º) uma citação (geralmente depois de verbo ou expressão que signifique dizer, responder, perguntar e sinônimos):
  • Eu lhe responderia: a vida é ilusão... (A. Peixoto)

  • 2º) uma enumeração explicativa:
  • Viajo entre todas as coisas do mundo: homem, flores, animais, água... (C. Meireles)

  • 3º) um esclarecimento, uma síntese ou uma consequência do que foi enunciado:
  • Ternura teve uma inspiração: atirar a corda, laçá-la. (A. M. Machado)
  • Não sou alegre nem sou triste: sou poeta. (C. Meireles)

  • Observação:

    Depois do vocativo que encabeça cartas, requerimentos, ofícios, etc., costuma-se colocar dois-pontos, vírgula ou ponto:

  • Prezado senhor:
  • Prezado senhor.
  • Prezado senhor,

Sendo o vocativo inicial emitido com entoação suspensiva, deve ser acompanhado, preferentemente, de dois-pontos ou de vírgula, sinais denotadores daquele tipo de inflexão.

O ponto de interrogação

  • 1. É o sinal que se usa no fim de qualquer interrogação direta, ainda que a pergunta não exija resposta:
  • Sabe você de uma novidade? (A. Peixoto)

  • 2. Nos casos em que a pergunta envolve dúvida, costuma-se fazer seguir de reticências o ponto de interrogação:
  • — Então?... que foi isso?... a comadre?... (Artur Azevedo)

  • 3. Nas perguntas que denotam surpresa, ou naquelas que não têm endereço nem resposta, empregam-se por vezes combinados o ponto de interrogação e o ponto de exclamação:
  • Que negócio é esse: cabra falando?! (C. D. de Andrade)

Observação:

O ponto de interrogação nunca se usa no fim de uma interrogação indireta, uma vez que esta termina com entoação descendente, exigindo, por isso, um ponto.

Comparem-se:

— Quem chegou? [= interrogação direta]

— Diga-me quem chegou. [= interrogação indireta]


O ponto de exclamação

É o sinal que se pospõe a qualquer enunciado de entoação exclamativa. Emprega-se, pois, normalmente:

  • a) depois de interjeições ou de termos equivalentes, como os vocativos intensivos, as apóstrofes:
  • Oh! dias de minha infância! (C. de Qbreu)
  • Deus! ó Deus! onde estás que não respondes? (C. Alves)

  • b) depois de um imperativo:
  • Coração, para! ou refreia, ou morre! (A. de Oliveira)

Observação:

A interjeição oh! (escrita com h), que denota geralmente surpresa, alegria ou desejo, vem seguida de ponto de exclamação. Já à interjeição de apelo ó, quando acompanhada de vocativo, não se pospõe ponto de exclamação; este se coloca, no caso, depois do vocativo. Comparem-se os exemplos do item a.

Reticências

  • 1. As reticências marcam uma interrupção da frase e, consequentemente, a suspensão da sua melodia. Empregam-se em casos muito variados. Assim:
    • a) para indicar que o narrador ou o personagem interrompe uma ideia que começou a exprimir e passa a considerações acessórias:
    • — A tal rapariguinha... Não digam que foi a Pôncia que contou. Menos essa, que não quero enredos comigo! (J. de Alencar)

    • b) para marcar suspensões provocadas por hesitação, surpresa, dúvida, timidez, ou para assinalar certas inflexões de natureza emocional de quem fala:
    • Fiador... para o senhor?! Ora!... (G. Amado)
    • Falaram todos. Quis falar... Não pude... Baixei os olhos... e empalideci... (A. Tavares)

    • c) para indicar que a ideia que se pretende exprimir não se completa com o término gramatical da frase, e que deve ser suprida com a imaginação do leitor:
    • Agora é que entendo tudo: as atitudes do pai, o recato da filha... Eu caí numa cilada... (J. Montello)

  • 2. Empregam-se também as reticências para reproduzir, nos diálogos, não uma suspensão do tom da voz, mas o corte da frase de um personagem pela interferência da fala de outro. Se a fala do personagem continua normalmente depois dessa interferência, costuma-se preceder o seguimento de reticências:
  • — Mas não me disse que acha...
  • — Acho.
  • — ...Que posso aceitar uma presidência, se me ofereceram?
  • — Pode; uma presidência aceita-se. (M. de Assis)

  • 3. Usam-se ainda as reticências antes de uma palavra ou de uma expressão que se quer realçar:
  • E teve um fim que nunca se soube... Pobrezinho... Andaria nos doze anos. Filho único. (S. Lopes Neto)

  • 4. Não se devem confundir reticências, que tem valor estilístico apreciável, com os três pontos que se empregam, como simples sinal tipográfico, para indicar que foram suprimidas palavras no início, no meio ou no fim de uma citação.

Modernamente, para evitar qualquer dúvida, tende a generalizar-se o uso de quatro pontos para marcar tais supressões, ficando os três pontos como sinal exclusivo das reticências.

As aspas

  • 1. Empregam-se principalmente:
    • a) no início e no fim de uma citação para distingui-la do resto do contexto:
    • O poeta espera a hora da morte e só aspira a que ela "não seja vil, manchada de medo, submissão ou cálculo". (M. Bandeira)

    • b) para fazer sobressair termos ou expressões, geralmente não peculiares à linguagem normal de quem escreve (estrangeirismos, arcaísmos, neologismos, vulgarismos, etc.):
    • Era melhor que fosse "clown". (E. Veríssimo)

    • c) para acentuar o valor significativo de uma palavra ou expressão:
    • A palavra "nordeste" é hoje uma palavra desfigurada pela expressão "obras do Nordeste", que quer dizer: "obras contra as secas". E quase não sugere senão as secas. (G. Freyre)

Observação:

No emprego das aspas, cumpre atender a estes preceitos do Formulário Ortográfico: "Quando a pausa coincide com o final da expressão ou sentença que se acha entre aspas, coloca-se o competente sinal de pontuação depois delas, se encerram apenas uma parte da proposição; quando, porém, as aspas abrangem todo o período, sentença, frase ou expressão, a respectiva notação fica abrangida por elas:

"Aí temos a lei", dizia o Florentino. "Mas quem as há de segurar? Ninguém." (R. Barbosa)


Os parênteses

  • 1. Empregam-se os parênteses para intercalar num texto qualquer indicação acessória. Seja, por exemplo:
    • a) uma explicação dada, uma reflexão, um comentário à margem do que se afirma:
    • Os outros (éramos uma dúzia) andavam também por essa idade, que é o doce-amargo subúrbio da adolescência. (P. M. Campos)
    • Mais uma vez (tinha consciência disso) decidia o seu destino. (A. A. Machado)

    • b) uma nota emocional, expressa geralmente em forma exclamativa, ou interrogativa:
  • Havia a escola, que era azul e tinha
  • Um mestre mau, de assustador pigarro...
  • (Meu Deus! que é isto? que emoção a minha
  • Quando estas coisas tão singelas narro?) (B. Lopes)

Observação:

Entre as explicações e as circunstâncias acessórias que costumam ser escritas entre parênteses, incluem-se as referências a datas, as indicações bibliográficas, etc.

  • "Boa noite, Maria! Eu vou-me embora." (Castro Alves. Espumas flutuantes. Bahia, 1870, p.71.)

  • 2. Usam-se também os parênteses para isolar orações intercaladas com verbos declarativos:
  • Uma vez (contavam) a polícia tinha conseguido deitar a mão nele. (A. Dourado)
  • o que se faz mais frequentemente por meio de vírgulas ou de travessões.

Os colchetes

Os colchetes são uma variedade de parênteses, mas de uso restrito. Empregam-se:

  • a) quando numa transcrição de texto alheio, o autor intercala observações próprias, como nesta nota de Sousa da Silveira a um passo de Casimiro de Abreu:
  • Entenda-se, pois: "Obrigado! obrigado [pelo teu canto em que] tu respondes [à minha pergunta sobre o porvir (versos 11-12) e me acenas para o futuro (versos 14 e 85), embora o que eu percebo no horizonte me pareça apenas uma nuvem (verso 15)]."

  • b) quando se deseja incluir, numa referência bibliográfica, indicação que não conste da obra citada, como neste exemplo:
  • Alencar, José de. O Guarani. 2 ed. Rio de Janeiro: B. L. Garnier Editor [1864].

O travessão

Emprega-se principalmente em dois casos:

1º) para indicar, nos diálogos, a mudança de interlocutor:

  • — Muito bom dia, meu compadre.
  • — Por que não apeia, compadre Vitorino?
  • — Estou com pressa. (J. L. do Rego)

2º) para isolar, num contexto, palavras ou frases. Neste caso, usa-se geralmente o travessão duplo: