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11.02 Flexões do Verbo

O verbo apresenta as variações de número, de pessoa, de modo, de tempo, de aspecto e de voz.

Números

Como as outras palavras variáveis, o verbo admite dois números: o singular e o plural. Dizemos que um verbo está no singular quando ele se refere a uma só pessoa ou coisa e, no plural, quando tem por sujeito mais de uma pessoa ou coisa. Exemplo:

Singular estudo estudas estuda
Plural estudamos estudais estudam

Pessoas

O verbo possui três pessoas relacionadas diretamente com a pessoa gramatical que lhe serve de sujeito.

  • 1. A primeira é aquela que fala e corresponde aos pronomes pessoais eu (singular) e nós (plural):
  • estudo estudamos
  • 2. A segunda é aquela a quem se fala e corresponde aos pronomes pessoais tu (singular) e vós (plural):
  • estudas estudais
  • 3. A terceira é aquela de quem se fala e corresponde aos pronomes pessoais ele, ela (singular) e eles, elas (plural):
  • estuda estudam

Modos

Chamam-se modos as diferentes formas que toma o verbo para indicar a atitude (de certeza, de dúvida, de suposição, de mando, etc.) da pessoa que fala em relação ao fato que enuncia.

Há três modos em português: o indicativo, o subjuntivo e o imperativo.

Formas nominais do verbo

São formas nominais do verbo o infinitivo (pessoal e impessoal), o gerúndio e o particípio.

estudar estudando estudado

Tempos

Tempo é a variação que indica o momento em que se dá o fato expresso pelo verbo.

Os três tempos naturais são o presente, o pretérito (ou passado) e o futuro, que designam, respectivamente, um fato ocorrido no momento em que se fala, antes do momento em que se fala e após o momento em que se fala.

O presente é indivisível, mas o pretérito e o futuro subdividem-se tanto no modo indicativo quanto no subjuntivo, como se vê no seguinte esquema:

Aspectos

  • 1. Diferentemente das categorias do tempo, do modo e da voz, o aspecto designa "uma categoria gramatical que manifesta o ponto de vista do qual o locutor considera a ação expressa pelo verbo". Pode ele considerá-la como concluída, isto é, observada no seu término, no seu resultado (pretérito perfeito); ou pode considerá-la como não concluída, ou seja, considerada na sua duração, na sua repetição (pretérito imperfeito).

  • 2. Além dessa distinção básica, que divide o verbo, gramaticalmente, em dois grupos de formas, costumam alguns estudiosos alargar o conceito de aspecto, nele incluindo valores semânticos pertinentes ao verbo ou ao contexto.
  • Assim, nestas frases:

  • João começou a comer.
  • João continua a comer.
  • João acabou de comer.

  • não há, a bem dizer, uma oposição gramatical de aspecto. é o próprio significado dos auxiliares que transmite ao contexto os sentidos incoativo, permansivo e conclusivo.

  • Dentro dessa lata conceituação, poderíamos distinguir, entre outras, as seguintes oposições aspectuais:

    • 1º) Aspecto pontual/aspecto durativo. A oposição aspectual caracteriza-se neste caso pela menor ou maior extensão de tempo ocupada pela ação verbal. Assim:
    • Aspecto pontual: Acabo de ler Dom Casmurro.
    • Aspecto durativo: Continuo a ler Dom Casmurro.

    • 2º) Aspecto contínuo/aspecto descontínuo. Aqui a oposição aspectual incide sobre o processo de desenvolvimento da ação:
    • Aspecto contínuo: Vou lendo Dom Casmurro.
    • Aspecto descontínuo Voltei a ler Dom Casmurro.

    • 3º) Aspecto incoativo/aspecto conclusivo. O aspecto incoativo exprime um processo considerado em sua fase inicial; o aspecto conclusivo ou terminativo expressa um processo observado em sua fase final:
    • Aspecto incoativo: Comecei a ler Dom Casmurro.
    • Aspecto conclusivo: Acabei de ler Dom Casmurro.

    • 3. São também de natureza aspectual as oposições entre:
      • a) Forma simples/perífrase durativa
      • Leio.
      • Estou lendo (ou estou a ler).
      • A perífrase de estar + gerúndio (ou infinitivo precedido da preposição a), que designa o "aspecto do momento rigoroso" (Said Ali), estende-se a todos os modos e tempos do sistema verbal e pode ser substituída por outras perífrases, formadas com os auxiliares de movimento (andar, ir, vir, viver, etc.) ou de implicação (continuar, ficar, etc.):

      • Ando lendo (ou a ler).
      • Continuo lendo (ou a ler).
      • Vai lendo.
      • Ficou lendo (ou a ler).

      • b) Ser/estar:
      • Ele foi ferido.
      • Ele está ferido.

      A oposição ser/estar corresponde a dois tipos de passividade. Ser forma a passiva de ação; estar, a passiva de estado.

    • 4. Como vemos, tais oposições baseiam-se fundamentalmente na diversidade de formação das perífrases verbais.
    • De um modo geral, pode-se dizer que as perífrases construídas com o particípio exprimem o aspecto acabado, concluído; e as construídas com o infinitivo ou o gerúndio expressam o aspecto inacabado, não concluído.

      Dos seus principais valores aspectuais trataremos adiante ao estudarmos os verbos auxiliares e as formas nominais do verbo.

    Vozes

    O fato expresso pelo verbo pode ser representado de três formas:

    • a) como praticado pelo sujeito:

    • João feriu Pedro.
    • Não vejo rosas neste jardim.

    • b) como sofrido pelo sujeito:
    • Pedro foi ferido por João.
    • Não se veem [= são vistas] rosas neste jardim.

    • c) como praticado e sofrido pelo sujeito:
    • João feriu-se.
    • Dei-me pressa em sair.

    No primeiro caso, diz-se que o verbo está na voz ativa; no segundo, na voz passiva; no terceiro, na voz reflexiva.

    Como se verifica dos exemplos dados, o objeto direto da voz ativa corresponde ao sujeito da voz passiva; e, na voz reflexiva, o objeto direto ou indireto é a mesma pessoa do sujeito. Logo, para que um verbo admita transformação de voz, é necessário que ele seja transitivo.

    Voz passiva

    Exprime-se a voz passiva:

    • a) com o verbo auxiliar ser e o particípio do verbo que se quer conjugar:
    • Pedro foi ferido por João.

    • b) com o pronome apassivador se e uma terceira pessoa verbal, singular ou plural, em concordância com o sujeito:
    • Não se vê [= é vista] uma rosa neste jardim.
    • Não se veem [= são vistas] rosas neste jardim.

    Voz reflexiva

    Exprime-se a voz reflexiva juntando-se às formas verbais da voz ativa os pronomes oblíquos me, te, nos, vos e se (singular e plural):

    Eu me feri [= a mim mesmo]
    Tu te feriste [= a ti mesmo]
    Ele se feriu [= a si mesmo]
    Nós nos ferimos [= a nós mesmos]
    Vós vos feristes [= a vós mesmos]
    Eles se feriram [= a si mesmos ]

    Observações:

    • 1ª) Além do verbo ser, há outros auxiliares que, combinados com um particípio, podem formar a voz passiva. Estão nesse caso certos verbos que exprimem estado (estar, andar, etc.), mudança de estado (ficar) e movimento (ir, vir):
    • Os homens já estavam tocados pela fé.
    • Ficou atormentado pelo remorso.
    • Os pais vinham acompanhados pelos filhos.
    • 2ª) Nas formas da voz passiva, o particípio concorda em gênero e número com o sujeito:
    • Ele foi ferido.
    • Eles foram feridos.
    • Ela foi ferida.
    • Elas foram feridas.

    Formas rizotônicas e arrizotônicas

    Em certas formas verbais o acento tônico recai no radical. Assim:

    ando andas
    anda andam
    ande andes
    ande andem

    Em outras, o acento tônico recai na terminação. Assim:

    andamos andais
    andou andar
    andemos andeis
    andava anda

    Às primeiras damos o nome de formas rizotônicas; às segundas, de formas arrizotônicas.