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13.04 Crase

Crase é um processo fonético, resultado da fusão da preposição a com

  • a) o artigo definido a(s):
  • Samuel foi convidado para ir à polícia. (C. C. de Andrade)

  • b) o pronome demonstrativo a(s):
  • A língua dos sermões parece levar vantagem à de todos os prosadores quinhentistas. (M. bandeira)

  • c) o fonema inicial dos pronomes demonstrativos aquele(s), aquela(s), aquilo:
  • Não resistia àquele pavor. (J. L. do Rego)

A crase é representada na escrita por um acento grave sobre a vogal a.

São condições básicas para o uso do acento grave indicativo de crase:

  • a) a existência de palavra feminina;

  • b) a palavra regente exigir a preposição a;

  • c) a palavra regida admitir o artigo a. Assim:
  • Da janela da cozinha, as mulheres assistiam à cena. (R. de Queirós)

  • No exemplo anterior, a palavra regente (v. assistir = presenciar) exige a preposição a; a palavra regida (cena) é feminina e se emprega com o artigo definido a. Logo: assistiam a + a cena = assistiam à cena.

    Principais casos de crase

    Casos gerais


    A crase ocorre:

    • a) na indicação de horas ou parte do dia:
    • À tarde, deu um pulo no foro e às quatro horas voltou para apanhar a mala de mão. (F. Sabino)

    • b) com expressões claras ou subentendidas que indicam
    • — moda ou maneira:
    • Embaixo apareciam as calças listradas de negro e cinza, largamente dobradas na bainha e vincadas à Eduardo VII. (P. Nava)

    • — escola, universidade, empresa:
    • A rua torta que levava à Faculdade de Medicina ia dar no Sena. (J. Montello)

    • — rua, avenida:
    • Em minutos se viu transportado à Rua da Relação, fotografado, fichado, interrogado. (C. D. de Andrade)

    • c) antes de locuções adverbiais (à parte, à beça, à espera, à queima-roupa, à margem, à risca, à revelia, às escondidas...); prepositivas (à força de, à custa de, à vista de, à espera de...); e conjuntivas (à medida que, à proporção que...), formadas de substantivo feminino:
    • Aldo permaneceu calado, à espera. (F. Sabino)
    • No Tabuleiro da Baiana dormiam jornaleiros à espera dos matutinos. (C. D. de Andrade)
    • À proporção que o rapazola crescia, Paquita redobrava de dedicação para com ele. (J. Montello)

    Observação:

    Nessas locuções, o a recebe o acento grave, sem que haja, a rigor, crase.

    Casos particulares


    Dá-se a crase:

    • a) com a palavra casa quando indicar estabelecimento comercial ou estiver seguida de adjunto:
    • Foi um golpe esta carta; não obstante, apenas fechou a noite, corri à casa de Virgília. (M. de Assis)

    • Observação:

      Entretanto não há crase com a palavra casa no sentido de residência, lar. Chegamos a casa eu e ela perto das nove horas da noite. (M. de Assis)


    • b) com a palavra terra seguida de uma especificação qualquer:
    • Tanto eu quanto minha mulher já estávamos ajustados à terra e à gente de Portugal. (J. Montello)

    • Observação:


      Mas não se usa a crase antes da palavra terra em oposição a mar:

      À noite já está embarcado, e nem desce a terra para esperar a maré. (O. Costa Filho)


    • c) com a palavra distância quando significar na distância ou estiver determinada:
    • Não ameis à distância. (R. Braga)
    • O navio estava à distância de cem metros do cais.

    • d) com a locução prepositiva até a seguida de palavra feminina:
    • Até à hora do saimento ele se deixou ficar ali. (J. Montello)

    • e) com os pronomes relativos: a qual, as quais, se o antecedente for feminino:
    • Ele era diferente desta pobre e imunda humanidade à qual todo indivíduo dotado de um mínimo de sensibilidade tem vergonha de pertencer. (P. Nava)

    • f) com o pronome relativo que antecedido do pronomedemonstrativo a ou as (= aquela, aquelas):
    • Em uma nota, muito anterior à que saiu no jornal, meu pai pronunciou-se a respeito.

    Emprego facultativo

      A crase é facultativa:

    • a) antes de nomes personativos femininos:
    • Chegou à cozinha, expôs à cozinheira e a Maria Júlia as penas verdes e amarelas que enfeitavam uma vida trêmula. (G. Ramos)

    • Observação:

      O autor poderia ter usado a crase se optasse pelo emprego do artigo a anteposto ao substantivo Maria Júlia.

    • b) antes de pronomes possessivos femininos:
    • Nosso filho saiu mais à tua família do que à minha. (J. Montello)

    Casos em que não há crase

    Não ocorre a crase:

    • a) antes de nomes masculinos:
    • Voltamos com a maré, a remo. (G. Amado)

    • b) antes de nomes femininos, no plural, empregados sem artigo:
    • Nunca foi chegada a crianças. (F. sabino)

    • c) antes de verbos:
    • Põem-se a criticar-me, a fazer picuinhas. (A. M. Machado)

    • d) antes de artigo indefinido:
    • Tive de ir a uma entrevista coletiva em substituição a um colega. (F. Sabino)

    • e) antes de pronomes pessoais e de tratamento (exceção feita a senhora, senhorita, dona):
    • Não basta a gente confessar-se a si mesma. (E. Veríssimo)
    • Tenho a honra de comunicar a Vossa Excelência que suas ordens foram fielmente cumpridas. (J. Montello)

    • f) antes de pronomes indefinidos e dos demonstrativos esta e essa:
    • Um cabo de polícia esteve lá, mas não chegou a nenhuma conclusão. (R. Braga)
    • Se há alguma verdade nisso, então a esta hora ela está morta!(F. Sabino)

    • g) nas locuções adverbiais constituídas de palavras repetidas: gota a gota, frente a frente, ponta a ponta, face a face, cara a cara, etc.:
    • Olha a vida, rindo ou chorando, frente a frente. (R. de Carvalho)
    • Numa conversa, cara a cara, quem sabe eu o convenço e boto abaixo essa injustiça. (J. Amado)

    • h) antes de expressões ou locuções adverbiais de instrumento:
    • Fechou um cabaré a faca e quase mata um parceiro, homem de sua idade. (O. Costa Filho)

    • i) antes de nomes de cidades que se empregam sem artigo: Daqui de Londres vou a Paris. (J. Montello)

    • Observação:

      Porém, se o nome da cidade for empregado com artigo ou estiver particularizado, o acento é obrigatório:

    • Oh, minha infância! misturada, graças a eles, à Roma dos Tarquínios e à Bíblia dos patriarcas. (G. Amado)

    • j) antes dos relativos quem e cujo:
    • É o meu Salvador de outrora e de sempre, é aquele generoso espírito a quem nunca faltou simpatia para todo esforço sincero. (M. de Assis)
      A baronesa sorriu e voltou os olhos para Guiomar, a cuja conta lançou aquela dedicação ao sobrinho. (M. de Assis)