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18.01 Discurso Direto

Examinando este passo do romance Menino de Engenho, de José Lins do Rego:

  • E uma tarde um moleque chegou às carreiras, gritando:
  • — A cheia vem no engenho de seu Lula!

  • verificamos que o narrador, após introduzir o personagem, o moleque, deixou-o expressar-se por si mesmo, limitando-se a reproduzir-lhe as palavras como ele as teria efetivamente selecionado, organizado e pronunciado. É a forma de expressão denominada discurso direto.

Características do discurso direto

  • 1. No plano formal, um enunciado em discurso direto é marcado, geralmente, pela presença de verbos do tipo dizer, afirmar, ponderar, sugerir, perguntar, indagar, responder e sinônimos, que podem introduzi-lo, arrematá-lo, ou nele se inserir:
  • Branco foi logo indagando: — Que foi que aconteceu, André? (O. de Faria)
  • Isto já foi muito melhor, dizia consigo. (M. Lobato)
  • Já não é o mesmo, queixava-se esta; ouviu o canto da sereia. (C. D. de Andrade)

Quando falta um desses verbos declarativos, cabe ao contexto e a recursos gráficos — tais como os dois-pontos, as aspas, o travessão e a mudança de linha — a função de indicar a fala do personagem. é o que observamos nesta passagem.

  • O amigo abraçou-o. E logo recuou com certo espanto: — O seu chapéu, Zé Maria?
  • — Ah, não uso mais!...
  • — Felizardo! (A. M. Machado)

  • 2. No plano expressivo, a força da narração em discurso direto provém essencialmente da sua capacidade de atualizar o episódio, fazendo emergir da situação o personagem, tornando-o vivo para o ouvinte, à maneira de uma cena teatral, em que o narrador desempenha a mera função de indicador das falas.
  • Daí ser esta a forma de relatar preferentemente adotada nos atos diários de comunicação e nos estilos literários narrativos em que os autores pretendem representar diante dos que leem "a comédia humana, com a maior naturalidade possível". (É. Zola)