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09.02 Pronomes Pessoais

Os pronomes pessoais caracterizam-se:

  • 1º) por denotarem as três pessoas gramaticais:
    • a) quem fala = 1ª pessoa: eu (singular), nós (plural);
    • b) com quem se fala = 2ª pessoa: tu (singular), vós (plural);
    • c) de quem ou de que se fala = 3ª pessoa: ele, ela (singular); eles, elas (plural).

  • 2º) por poderem representar, quando na 3ª pessoa, uma forma nominal anteriormente expressa:
    • Santas virtudes primitivas, ponde
    • Bênçãos nesta Alma para que ela se una
    • A Deus, e vá, sabendo bem por onde... (A. de Guimaraens)

  • 3º) por variarem de forma, segundo:
    • a) a função que desempenham na oração;
    • b) a acentuação que nela recebem.

Formas dos pronomes pessoais

Quanto à função, as formas do pronome pessoal podem ser retas ou oblíquas. Retas, quando funcionam como sujeito da oração; oblíquas, quando nela se empregam fundamentalmente como objeto (direto ou indireto).

Quanto à acentuação, distinguem-se, nos pronomes pessoais, as formas tônicas das átonas.

O quadro a seguir mostra claramente a correspondência entre essas formas:

  Pronomes Pessoais Pronomes Pessoais
Oblíquos Não Reflexivos
  Retos átonos tônicos

SINGULAR  

1ª Pessoa
2ª Pessoa
3ª Pessoa
eu
tu
ele, ela
me
te
o, a, lhe
mim, comigo
ti, contigo
ele, ela

PLURAL  

1ª Pessoa
2ª Pessoa
3ª Pessoa
nós
vós
eles, elas
nos
vos
os, as, lhes
nós, conosco
vós, convosco
eles, elas

Formas o, lo e no do pronome oblíquo

Quando o pronome oblíquo da 3ª pessoa, que funciona como objeto direto, vem antes do verbo, apresenta-se com as formas o, a, os, as. Assim:

A mãe o chamava da porta da cozinha. (O. L. Resende)


Quando, porém, está colocado depois do verbo e se liga a este por hífen (pronome enclítico), a sua forma depende da terminação do verbo. Assim:

  • 1º) Se a forma verbal terminar em vogal ou ditongo oral, empregam-se o, a, os, as:
  • louvo-o louvei-os
    louvava-a louvou-as
  • 2º) Se a forma verbal terminar em -r, -s ou -z, suprimem-se estas consoantes, e o pronome assume as modalidades lo, la, los, las:
  • faze(r)+o = fazê-lo
    faze(s)+o = faze-lo
    fe(z)+o = fê-lo
        Ouvi-lo é um prazer, revê-lo uma delícia. (C. de Laet)
        Um rumor fê-lo voltar-se (C. D. de Andrade)

    O mesmo se dá quando ele vem posposto ao designativo eis ou aos pronomes nos e vos:

    •     Ei-lo finalmente diante da locomotiva (A. Machado)
    •     Que o Senhor vo-la dê suave e pronta. (J. Montello)

    • 3º) Se a forma verbal terminar em ditongo nasal, o pronome assume as modalidades no, na, nos, nas:
    • dão-no tem-nos
      põe-na trouxeram-nas

    Observação:

    No futuro do presente e no futuro do pretérito, o pronome oblíquo não pode ser enclítico, isto é, não pode vir depois do verbo. Dá-se a próclise ou, então, a mesóclise do pronome, ou seja, a sua colocação no interior do verbo. Justifica-se tal colocação por terem sido estes dois tempos formados pela justaposição do infinitivo do verbo principal e das formas reduzidas, respectivamente, do presente e do imperfeito do indicativo do verbo haver. O pronome empregava-se depois do infinitivo do verbo principal, situação que, em última análise, ainda hoje conserva. E, como todo infinitivo termina em -r, também nos dois tempos em causa desaparece esta consoante e o pronome toma as formas lo, la, los, las. Assim:

    Futuro do Presente
    vender-(h)ei vendê-lo-ei
    vender-(h)ás vendê-lo-ás
    vender-(h)á vendê-lo-á
    vender-(h)emos vendê-lo-emos
    vender-(h)eis vendê-lo-eis
    vender-(h)ão vendê-lo-ão
    Futuro do Pretérito
    vender-(h)ia vendê-lo-ia
    vender-(h)ias vendê-lo-ias
    vender-(h)ia vendê-lo-ia
    vender-(h)íamos vendê-lo-íamos
    vender-(h)íeis vendê-lo-íeis
    vender-(h)iam vendê-lo-iam

    Pronomes reflexivos e recíprocos

    • 1. Quando o objeto direto ou indireto representa a mesma pessoa ou a mesma coisa que o sujeito do verbo, ele é expresso por um pronome reflexivo.

    • O reflexivo apresenta três formas próprias — se, si e consigo —, que se aplicam tanto à 3ª pessoa do singular como à do plural:

      • Ela vestiu-se rapidamente.
      • Ela fala sempre de si.
      • O comprador trouxe o dinheiro consigo.
      • Eles vestiam-se rapidamente.
      • Os compradores trouxeram o dinheiro consigo.

      Nas demais pessoas, as suas formas identificam-se com as do pronome oblíquo: me, te, nos e vos:

      Eu me feri. Nós nos vestimos.
      Tu te lavas. Vós nos levantais.
    • 2. As formas do reflexivo nas pessoas do plural (nos, vos e se) empregam-se também para exprimir a reciprocidade da ação, isto é, para indicar que a ação é mútua entre dois ou mais indivíduos. Neste caso, diz-se que o pronome é recíproco:
    •     De alegria, todos se davam as mãos, confraternizando. (C. D. de Andrade)

    • 3. Como são idênticas as formas do pronome recíproco e do reflexivo, pode haver ambiguidade com um sujeito plural. Uma frase como:
    •     Joaquim e Antônio enganaram-se.
    • pode significar que o grupo formado por Joaquim e Antônio cometeu o engano, ou que Joaquim enganou Antônio e este a Joaquim.

    Remove-se a ambiguidade com expressões reforçativas. Assim:

    • a) para marcar expressamente a ação reflexiva, acrescenta-se-lhes, conforme a pessoa, a mim mesmo, a ti mesmo, a si mesmo, etc:
    • Joaquim e Antônio enganaram-se a si mesmos.

    • b) para marcar expressamente a ação recíproca, junta-se-lhes ou uma expressão pronominal, como um ao outro, uns aos outros, entre si, ou um advérbio, como reciprocamente, mutuamente:
    • Joaquim e Antônio enganaram-se entre si.
    • Joaquim e Antônio enganaram-se um ao outro.
    • Joaquim e Antônio enganaram-se mutuamente.

Emprego dos pronomes retos

Funções dos pronomes retos

  • 1. Os pronomes retos empregam-se como:
    • a) sujeito:
      Ela riu alto, demais. (A. Dourado)
    • b) predicativo do sujeito: Vou calar-me e fingir que eu sou eu... (A. Renault)
  • 2. Tu e vós podem ser vocativos:
  • Ó tu, Senhor Jesus, o Misericordioso,
    De quem o Amor sublime enaltece o Universo... (A. de Guimaraens)

Omissão do pronome sujeito

Os pronomes sujeitos eu, tu, ele (ela), nós, vós, eles (elas) são normalmente omitidos em português, porque as desinências verbais bastam, de regra, para indicar a pessoa a que se refere o predicado, bem como o número gramatical (singular ou plural) dessa pessoa:

ando escreves dormiu
rimos partistes voltam

Presença do pronome sujeito

Emprega-se o pronome sujeito:

  • a) quando se deseja, enfaticamente, chamar a atenção para a pessoa do sujeito:
  • Eu sinto em mim o borbulhar do gênio. (C. Alves)

  • b) para opor duas pessoas diferentes:
  • Sorri e disse:
    — Ele se irá, creio, mas ficará ela. (M. de Assis)

  • c) quando a forma verbal é comum à 1ª e à 3ª pessoa do singular e, por isso, se torna necessário evitar o equívoco:
  • Convém que eu saiba o que ele disse?
    Convém que ele saiba o que eu disse?

Extensão de emprego dos pronomes retos

Na linguagem formal, certos pronomes retos adquirem valores especiais. Enumeremos os seguintes:

  • 1. O plural de modéstia. Para evitar o tom impositivo ou muito pessoal de suas opiniões, costumam os escritores e os oradores tratar-se por nós em lugar da forma normal eu. Com isso, procuram dar a impressão de que as ideias que expõem são compartilhadas por seus leitores ou ouvintes, pois que se expressam como porta-vozes do pensamento coletivo. A este emprego da 1ª pessoa do plural pela correspondente do singular chamamos plural de modéstia:
  • Algumas [cantigas], mas poucas, foram por nós colhidas da boca do Povo. (J. Cortesão)

Advirta-se que, quando o sujeito nós é um plural de modéstia, o predicativo ou particípio, que com ele deve concordar, costuma ficar no singular, como se o sujeito fosse efetivamente eu. Assim, em vez de:

  • Fiquei perplexo com o que ele disse.
  • podemos dizer:
  • Ficamos perplexo com o que ele disse.

Observação:

O pronome nós era usado outrora pelos reis de Portugal – e ainda hoje por altos dignitários da Igreja – como símbolo de grandeza e poder de suas funções. É o chamado plural de majestade:

Nós, Dom Fernando, pela graça de Deus Rei de Portugal e do Algarve, fazemos saber...

  • 2. Fórmula de cortesia (3ª pessoa pela 1ª). Quando fazemos um requerimento, por deferência à pessoa a quem nos dirigimos, tratamo-nos a nós próprios pela 3ª pessoa, e não pela 1ª:
  • Fulano de tal, aluno desse Colégio, requer a V.S.ª se digne de mandar passar por certidão as notas mensais por ele obtidas no presente ano letivo.

  • 3. O vós de cerimônia. O pronome vós praticamente desapareceu da linguagem corrente do Brasil. Mas em discursos enfáticos alguns oradores ainda se servem da 2ª pessoa do plural para se dirigirem cerimoniosamente a um auditório qualificado.
  • Veja-se este passo com que Olavo Bilac termina o seu discurso de ingresso na Academia das Ciências de Lisboa:

  •     Em vós, na vossa mocidade, no vosso entusiasmo,
        beijo a terra de Minas, coração do Brasil. (O. Bilac)

Realce do pronome sujeito

Para dar ênfase ao pronome sujeito, costuma-se reforçá-lo:

  • a) seja com as palavras mesmo e próprio:
  • — Tu mesmo serás o novo Hércules. (M. de Assis)

  • b) seja com a expressão invariável é que:
  • — Eu é que lhe devia pedir desculpas de minha irritação. (R. M. F. de Andrade)

Precedência dos pronomes sujeitos

Quando no sujeito composto há um pronome da 1ª pessoa do singular (eu), é boa norma de civilidade colocá-lo em último lugar:

Carlos, Augusto e eu fomos promovidos.

Se, porém, o que se declara contém algo de desagradável ou importa responsabilidade, por ele devemos iniciar a série:

Eu, Carlos e Augusto fomos os culpados do acidente.

Equívocos e incorreções

  • 1. Como o pronome ele (ela) pode representar qualquer substantivo anteriormente mencionado, convém ficar bem claro a que elemento da frase ele se refere.
  • Por exemplo, uma frase como:

  •     Álvaro disse a Paulo que ele chegaria primeiro.
    é ambígua, pois ele pode aplicar-se tanto a Álvaro como a Paulo.

  • Para evitar a ambiguidade, pode-se repetir o nome da pessoa a quem o pronome ele se refere, em forma de aposto:
        Álvaro disse a Paulo que ele, Álvaro, chegaria primeiro.


  • 2. Na linguagem coloquial e familiar do Brasil, é muito frequente o uso do pronome ele(s), ela(s) como objeto direto em frases do tipo:
  •     Vi ele.
        Encontrei ela.

  • 3. Convém, no entanto, não confundir tal construção com outras, perfeitamente legítimas, em que o pronome em causa funciona como objeto direto. Assim:
    • a) quando, antecedido da preposição a, repete o objeto direto enunciado pela forma normal átona (o, a, os, as): Temia-a, a ela, à mulher que o guiava. (G. Rosa)
    • b) quando precedido das palavras todo ou :
    • Só elas é que devíamos frequentar. (O. Andrade)
      Amo em ti todas elas. (M. Rebelo)

Contração das preposições de e em com o pronome reto da 3ª pessoa

A s preposições de e em contraem-se com o pronome reto de 3ª pessoa ele(s), ela(s), dando, respectivamente, dele(s), dela(s) e nele(s), nela(s):

A pasta é dele, e nela está o meu caderno.

É de norma, porém, não haver a contração quando o pronome é sujeito; ou, melhor dizendo, quando as preposições de e em se relacionam com o infinitivo, e não com o pronome. Assim:

Ele me escrevia contente de eu ter topado com entusiasmo a ideia. (R. Braga)