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11.13 Sintaxe dos Modos e dos Tempos

Modo indicativo

Com o modo indicativo exprime-se, em geral, uma ação ou um estado considerados na sua realidade ou na sua certeza, quer em referência ao presente, quer ao passado ou ao futuro. é, fundamentalmente, o modo da oração principal.

Emprego dos tempos do indicativo

Presente
O presente do indicativo emprega-se:
  • 1º) para enunciar um fato atual, isto é, que ocorre no momento em que se fala (presente momentâneo):
  • Cai o crepúsculo. Chove. Sobe a névoa... A sombra desce... (da Costa e Silva)

  • 2º) para indicar ações e estados permanentes ou assim considerados, como seja uma verdade científica, um dogma, um artigo de lei (presente durativo):
  • Os corpos caem no vácuo com igual velocidade.
  • A Santíssima Trindade é o mesmo Deus. Nela três pessoas distintas e um só Deus verdadeiro.
  • O direito de propriedade abrange todos os direitos que formam o nosso patrimônio.

  • 3º) para expressar uma ação habitual (presente habitual ou frequentativo):
  • Não gosto de trabalhar, não fumo, não durmo com muitos sonos... (R. L. do Rego)

  • 4º) para dar vivacidade a fatos ocorridos no passado (presente histórico ou narrativo):
  • A Avenida é o mar dos foliões. Serpentinas cortam o ar carregado de éter, rolam das sacadas, pendem das árvores e dos fios, unem com os seus matizes os automóveis do corso. (M. Rebelo)

  • 5º) para marcar um fato futuro, mas próximo; caso em que, para impedir qualquer ambiguidade, se faz acompanhar geralmente de um adjunto adverbial:
  • Amanhã mesmo vou para Belo Horizonte e lá pego o avião do Rio. (A. Callado)

Pretérito imperfeito

O pretérito imperfeito designa, fundamentalmente, um fato passado, mas não concluído (imperfeito = não perfeito, inacabado). Encerra, pois, uma ideia de continuidade, de duração do processo verbal mais acentuada do que os outros tempos pretéritos, razão por que se presta especialmente para descrições e narrações de acontecimentos passados.

Quando eu não a esperava, e ela aparecia, o coração vinha-me à boca dando pancadas emotivas. (L. Jardim)


Pretérito perfeito

O pretérito perfeito simples exprime um fato já concluído anteriormente ao momento em que se fala:

El-rei, quando o mancebo o cumprimentou pela última vez, sorriu-se. (R. da Silva)

A forma composta exprime geralmente a repetição de um fato ou a sua continuidade até o presente em que falamos:

— Eu tenho cruzado o nosso Estado em caprichoso ziguezague. (S. Lopes Neto)

Distinções entre o pretérito imperfeito e o perfeito

Convém ter presentes as seguintes distinções de emprego do pretérito imperfeito e do pretérito perfeito simples do indicativo:

  • a) o pretérito imperfeito exprime o fato passado habitual; o pretérito perfeito, o não habitual:
  • Quando o via, cumprimentava-o.
  • Quando o vi, cumprimentei-o.

  • b) o pretérito imperfeito exprime a ação durativa, e não a limita no tempo; o pretérito perfeito, ao contrário, indica a ação momentânea, definida no tempo. Comparem-se estes dois exemplos:
  • A docilidade da menina encantava a alma do pai. (M. de Assis)
  • A docilidade da menina encantou a alma do pai.

  • Pretérito mais-que-perfeito

    O pretérito mais-que-perfeito indica uma ação que ocorreu antes de outra ação já passada:

    • Casamos daí a uns meses. Eu hesitara, sempre tivera medo de dar padrasto aos meus filhos, e além disso fora tão infeliz no primeiro casamento. (R. de Queirós)

    Observação:

    Na linguagem literária do Modernismo brasileiro, assim como na linguagem coloquial, é nítida a preferência pela forma composta. Os poucos dias passados na serra, tinham-lhe feito bem. (J. Montello)


    Futuro do presente

    • 1. O futuro do presente simples emprega-se:

      • 1º) para indicar fatos certos ou prováveis, posteriores ao momento em que se fala:
      • As aulas começarão depois de amanhã. (C. dos Anjos)

      • 2º) para exprimir a incerteza (probabilidade, dúvida, suposição) sobre fatos atuais:
      • — Quem está aqui? Será um ladrão? (G. Ramos)

    Substitutos do futuro do presente simples

    Na língua falada o futuro simples é de emprego relativamente raro. Preferimos, na conversação, substituí-lo por locuções constituídas:

    • a) do presente do indicativo do verbo haver + preposição de + infinitivo do verbo principal:
    • Deixe; amanhã hei de acordá-lo a pau de vassoura! (M. de Assis)

    • b) do presente do indicativo do verbo ter + preposição de + infinitivo do verbo principal:
    • Temos de recriar de novo o mundo... (T. da Silveira)

    • c) do presente do indicativo do verbo ir + infinitivo do verbo principal:
    • Vamos entrar no mar. (Adonias Fillho)

    • 2. O futuro do presente composto emprega-se:
      • 1º) para indicar que uma ação futura será consumada antes de outra:
      • Quando ele chegar, terei tomado todas as providências.

      • 2º) para exprimir a certeza de uma ação futura:
      • Amanhã procure o Dr. Alcebíades, disse o Dr. Viriato. Já terei conversado com ele. (A. Dourado)

    Futuro do pretérito
    • 1. O futuro do pretérito simples emprega-se:
      • 1º) para designar ações posteriores a uma época do passado, da qual se fala:
      • E você não vai? perguntei.
      • Não. Ainda ficaria. Esperaria a noite. (M. Rebelo)

      • 2º) para exprimir a incerteza (probabilidade, dúvida, suposição) sobre fatos passados:
      • Seriam mais ou menos dez horas quando Paulo e Aurélio chegaram à boca do mato. (M. Palmério)

      • 3º) como forma polida de presente, em geral denotadora de desejo:
      • Desejaríamos ouvi-lo sobre o crime. (C. D. de Andrade)

    • 2. O futuro do pretérito composto emprega-se:
      • 1º) para indicar que um fato teria acontecido no passado, mediante certa condição:
      • Teria sido diferente, se eu o amasse. (C. dos Anjos)

      • 2º) para exprimir a possibilidade de um fato passado:
      • Teria sido melhor não escrever nada. (R. Braga)

      • 3º) para indicar a incerteza sobre fatos passados em certas frases interrogativas que dispensam a resposta do interlocutor:
      • Aquele malandro os teria engolido? (C. D. de Andrade)

    Modo subjuntivo

    Indicativo e Subjuntivo

    Quando nos servimos do modo indicativo, consideramos o fato expresso pelo verbo como certo, real, seja no presente, seja no passado, seja no futuro.

    Ao empregarmos o modo subjuntivo, é completamente diversa a nossa atitude. Encaramos, então, a existência ou não existência do fato como uma coisa incerta, duvidosa, eventual ou, mesmo, irreal.

    Comparem-se, por exemplo, estas frases:

    Tempo Modo Indicativo Modo Subjuntivo

    Presente

    Afirmo que ele estuda Duvido que ele estude

    Imperfeito

    Afirmei que ele estudava Duvidei que ele estudasse

    Perfeito

    Afirmo que ele estudou (ou tem estudado) Duvido que ele tenha estudado

    Mais-que-perfeito

    Afirmava que ele tinha estudado (ou estudara) Duvidava que ele tivesse estudado

    Emprego do Subjuntivo

    Como o próprio nome indica, o subjuntivo denota que uma ação, ainda não realizada, é concebida como dependente de outra, expressa ou subentendida. Daí o seu emprego normal na oração subordinada.

    Emprego dos tempos do Subjuntivo

    As noções temporais que encerram as formas do subjuntivo não são precisas como as expressas pelas do indicativo, denotadoras de ações concebidas em sua realidade. Assim:

    • 1. O presente do subjuntivo pode indicar um fato:
      • a) presente:
      • Pena é que os meninos estejam tão mal providos de roupa. (O. L. Resende)

      • b) futuro:
      • Meus olhos apodreçam se abençoar você. (Adonias Fillho)

    • 2. O imperfeito do subjuntivo pode ter o valor:
      • a) de passado:
      • Todos os domingos, chovesse ou fizesse sol, estava eu lá. (H. Sales)

      • b) de futuro:
      • Aos domingos, treinava o discurso destinado ao pretendente que chegasse primeiro. (N. Piñon)

      • c) de presente:
      • Tivesses coração, terias tudo. (G. Passos)

    • 3. O pretérito perfeito do subjuntivo pode exprimir um fato:
      • a) passado (supostamente concluído):
      • Espero que você tenha encontrado esse alguém na rua, depois daquela cena patética do carro. (F. Sabino)

      • b) futuro (terminado em relação a outro fato futuro):
      • Espero que João tenha feito o exame quando eu voltar.

    • 4. O pretérito mais-que-perfeito do subjuntivo pode indicar:
      • a) uma ação anterior a outra ação passada (dentro do sentido eventual do modo subjuntivo):
      • Esperei-a um pouco, até que tivesse terminado sua toilette e pudéssemos sair juntos. (C. dos Anjos)

      • b) uma ação irreal no passado:
      • Se a vitória os houvesse coroado com os seus favores, não lhes faltaria o aplauso do mundo e a solicitude dos grandes advogados. (R. Barbosa)

    • 5. O futuro do subjuntivo simples marca a eventualidade no futuro e emprega-se em orações subordinadas:
    • Quando me acontecer alguma pecúnia, passante de um milhão de cruzeiros, compro uma ilha. (C. D. de Andrade)

    • 6. O futuro do subjuntivo composto indica um fato futuro como terminado em relação a outro fato futuro:
    • — D. Sancha, peço-lhe que não leia esse livro, ou, se o houver lido até aqui, abandone o resto. (M. de Assis)

    Modo imperativo

    Emprego do Modo Imperativo


    • 1. Quando empregamos o imperativo, em geral, temos o intuito de exortar o nosso interlocutor a cumprir a ação indicada pelo verbo. é, pois, mais o modo da exortação, do conselho, do convite, do que propriamente do comando, da ordem.

    • 2. Tanto o imperativo afirmativo como o negativou sam-se somente em orações absolutas, em orações principais, ou em orações coordenadas:
    • Saiam da chuva, meninos! (L. Jardim)
    • Ah, meus amigos, não vos deixeis morrer assim... (V. de Moraes)

    Emprego das formas nominais

    Características gerais


    São formas nominais do verbo o infinitivo, o gerúndio e o particípio.

    Caracterizam-se todas por não poderem exprimir por si nem o tempo nem o modo. O seu valor temporal e modal depende sempre do contexto em que aparecem.

    Distinguem-se, fundamentalmente, pelas seguintes peculiaridades:

    • a) o infinitivo apresenta o processo verbal em potência,exprime a ideia da ação, aproximando-se, assim, do substantivo:
    • Doce é projetar, rude é cumprir. (C. D. de Andrade)

    • b) o gerúndio apresenta o processo verbal em curso e desempenha funções exercidas pelo advérbio ou pelo adjetivo:
    • Ouvia-se o cantar de carros de boi, chorando, de muito longe. (J. L. do Rego)

    • c) o particípio apresenta o resultado do processo verbal; acumula as características de verbo com as de adjetivo, podendo, em certos casos, receber como este as desinências -a de feminino e -s de plural:
    • Sobre as paredes internas que restavam, equilibravam-se pontas de vigamento, revestidas de um bolor claro de cinza, tições enormes, apagados. (R. Pompeia)

    Acrescente-se, ainda, que:

    • a) o infinitivo e o gerúndio possuem, ao lado da forma simples, uma forma composta, que exprime a ação concluída; apresentam, pois, internamente uma oposição de aspecto:
    • Aspecto não-concluído Aspecto concluído

      Infinitivo

      ler ter lido
      Gerúndio lendo tendo lido
    • b) o infinitivo apresenta, em português, duas formas: uma não flexionada; outra flexionada, como qualquer forma pessoal do verbo;

    • c) o gerúndio é invariável;

    • d) o particípio não se flexiona em pessoa.

    Emprego do Infinitivo

    Infinitivo Impessoal e Infinitivo Pessoal

    A par do infinitivo impessoal, isto é, do infinitivo que não tem sujeito, porque não se refere a uma pessoa gramatical, conhece a língua portuguesa o infinitivo pessoal, que tem sujeito próprio e pode ou não flexionar-se. Assim, em:

    Esperar tantos meses foi fácil. (C. D. de Andrade)

    O infinitivo é impessoal.

    Já nas frases:

    Seria capaz de me hospedar lá. (M. Bandeira)
    Ao despertarem, estavam derrotados. (C. D. de Andrade)

    Estamos diante de uma forma do infinitivo pessoal, que tem, na 1ª, o sujeito eu (oculto) e na 2ª, o sujeito eles (oculto). No primeiro caso, o infinitivo é pessoal, mas não flexionado; no segundo, é pessoal flexionado.

    Emprego da forma não flexionada


    O infinitivo conserva a forma não flexionada:

    • 1º) quando é impessoal, ou seja, quando não se refere a nenhum sujeito:
    • É bom ter uma casa, dormir, sonhar. (C. Meireles)

    • 2º) quando tem valor de imperativo:
    • E Deus responde — "Marchar!" (C. Alves)

    • 3º) quando, precedido da preposição de, tem sentido passivo e serve de complemento nominal a adjetivos como fácil, possível, bom, raro e outros semelhantes:
    • Era para mim, esta prisão, um martírio bem difícil de vencer. (J. L. do Rego)

    • 4º) quando pertence a uma locução verbal e não está distanciado do seu auxiliar:
    • — Amanhã vamos passar o dia no Oiteiro. (J. L. do Rego)

    • 5º) quando depende dos auxiliares causativos (deixar, mandar, fazer e sinônimos) ou sensitivos (ver, ouvir e sinônimos) e vem imediatamente depois desses verbos ou apenas separado deles por seu sujeito, expresso por um pronome oblíquo:
    • Mandara os meninos brincar no vizinho. (C. Lispector)
    • Esta viu-os ir pouco a pouco. (M. de Assis)

    Emprego da forma flexionada


    O infinitivo assume a forma flexionada:

    • 1º) quando tem sujeito claramente expresso:
    • Quero dizer — o costume é os feios amarem os belos e os belos se deixarem amar. (R. de Queirós)

    • 2º) quando se refere a um sujeito oculto, que se quer dar a conhecer pela desinência verbal:
    • Seria bom andarmos nus como as feras. (Adonias Fillho)

    • 3º) quando, na 3ª pessoa do plural, indica a indeterminação do sujeito:
    • Foi então que ouvi baterem na porta. (J. L. do Rego)

    • 4º) quando se quer dar à frase maior ênfase ou harmonia:
    • Aqueles homens gotejantes de suor, bêbados de calor, desvairados de insolação, a quebrarem, a espicaçarem, a torturarem a pedra, pareciam um punhado de demônios revoltados em sua imponência contra o impossível gigante. (A. Azevedo)

    Emprego do gerúndio


    Forma simples e composta

    Vimos que o gerúndio apresenta duas formas: uma simples (lendo), outra composta (tendo ou havendo lido).

    A forma composta é de caráter pretérito e indica uma ação concluída anteriormente à que exprime o verbo da oração principal:

    Tendo trabalhado desde a infância, Constantino de Carvalho é rigorosamente um autodidata. (P. Nava)

    A forma simples expressa uma ação em curso, que pode ser imediatamente anterior ou posterior à do verbo da oração principal, ou contemporânea dela.

    Não obtendo resultado, indignou-se. (G. Ramos)
    O gerúndio na locução verbal

    O gerúndio combina-se com os auxiliares estar, andar, ir e vir, para marcar diferentes aspectos da execução do processo verbal, examinados por nós ao estudarmos o emprego dos auxiliares.

    Emprego do particípio

    Elemento de tempos compostos

    O particípio desempenha importantíssimo papel no sistema do verbo, pois permite a formação dos tempos compostos que exprimem o aspecto conclusivo do processo verbal. Emprega-se:
    • a) com os auxiliares ter e haver, para formar os tempos compostos da voz ativa:
      • tendo escrito
      • havia escrito

    • b) com o auxiliar ser, para formar os tempos na voz passiva de ação:
    • Samuel foi convidado a ir à polícia (C. D. de Andrade)

    • c) com o auxiliar estar, para formar tempos da voz passiva de estado:
    • Os dois homens estavam fascinados. (C. D. de Andrade)

    Particípio sem auxiliar

    • 1. Desacompanhado de auxiliar, o particípio exprime fundamentalmente o estado resultante de uma ação acabada:
    • Contado ninguém acredita. (J. Montello)

    • 2. Quando o particípio exprime apenas o estado, sem estabelecer nenhuma relação temporal, ele se confunde com o adjetivo:
    • O vento enfurecido açoitava a rancharia. (A. Meyer)