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09.06 Pronomes Relativos

São assim chamados porque se referem, em geral, a um termo anterior — o antecedente.

Formas dos pronomes relativos

  • 1. Os pronomes relativos apresentam:
    • a) formas variáveis e invariáveis
    • Variáveis Invariáveis
      masculino feminino
      o qual os quais a qual as quais que
      cujo cujos cuja cujas quem
      quanto quantos - quantas onde
    • b) formas simples: que, quem, cujo, quanto e onde;

    • c) forma composta: o qual

  • 2. Antecedido das preposições a e de, o pronome onde com elas se aglutina, produzindo as formas aonde e donde.

Natureza do antecedente

O antecedente do pronome relativo pode ser:

  • a) um substantivo:
  • Deem-me as cigarras que eu ouvi menino. (M. Bandeira)

  • b) um adjetivo:
  • As opiniões têm como as frutas o seu tempo de madureza em que se tornam doces de azedas ou adstringentes que dantes eram. (Marquês de Maricá)

  • c) um pronome:
  • O que aconteceu à noite foi maravilhoso. (C. D. de Andrade)

  • d) um advérbio:
  • Aí, aqui onde estou,
  • no gancho do carvalho,
  • javali me comeu
  • e só resta de mim
  • este grito de horror. (C. D. de Andrade)

  • e) uma oração (em regra resumida pelo demonstrativo o):
  • Acomodar-se-iam num sítio pequeno, o que parecia difícil a Fabiano, criado solto no mato. (G. Ramos)

Função sintática dos pronomes relativos

Os pronomes relativos assumem um duplo papel no período por representarem um determinado antecedente e servirem de elo subordinante da oração que iniciam. Por is-so, ao contrário das conjunções, que são meros conectivos, e não exercem nenhuma função interna nas orações por elas introduzidas, estes pronomes desempenham sempre uma função sintática nas orações a que pertencem. Podem ser:

  • 1. Sujeito:
  • Quero ver do alto o horizonte,
  • Que foge sempre de mim. (O. Mariano)
  • [que = sujeito de foge]

  • 2. Objeto direto:
  • De novo concentrou a atenção no que a amiga lhe dizia. (E. Veríssimo)
  • [que = objeto direto de dizia]

  • 3. Objeto indireto:
  • Eu aguardava com uma ansiedade medonha esta cheia de que tanto se falava. (J. L. do Rego)
  • [de que = objeto indireto de falava]

  • 4. Predicativo:
  • Reduze-me ao pó que fui. (C. Meireles)
  • [que = predicativo do sujeito eu, oculto].

  • 5. Adjunto adnominal:
  • Um dia entrei num desses esconderijos subterrâneos a cuja entrada eles às vezes semeiam víboras vivas... (E. Veríssimo)
  • [cuja = adjunto adnominal de entrada]

  • 6. Complemento nominal:
  • Foi o último milagre da Penha de que tive notícia. (V. de Moraes)
  • [de que = complemento nominal de notícia]

  • 7. Adjunto adverbial:
  • Entrava-se de barco pelo corredor da velha casa de cômodos onde eu morava. (M. Quintana)
  • [onde = adjunto adverbial de morava]

  • 8. Agente da passiva:
  • Este é o ministro por quem fui nomeado.
  • [por quem = agente da passiva do verbo nomear]

Observação:

Note-se que o relativo cujo funciona sempre como adjunto adnominal e o relativo onde, apenas como adjunto adverbial.

Valores e empregos dos relativos

Que

  • 1. Que é o relativo básico. Usa-se com referência a pessoa ou coisa, no singular ou no plural, e pode iniciar orações:
    • a) adjetivas restritivas:
    • Os amigos que me restam são de data recente. (M. de Assis)

    • b) adjetivas explicativas:
    • O ministro, que acabava de jantar, fumava calado e pacífico. (M. de Assis)

  • 2. Por vezes, o antecedente de que está subentendido:
  • Esta palavra doeu-me muito, e não achei logo que lhe replicasse. (M. de Assis)
  • isto é, palavra (aquilo, o) que lhe replicasse.

Qual, o qual

  • 1. Nas orações adjetivas explicativas, o pronome que, com antecedente substantivo, pode ser substituído por o qual (a qual, os quais, as quais):
  • Durante o seu domínio, todavia, acentua-se a evolução do latim vulgar, falado na península, o qual vinha de há muito diversificando-se em dialetos vários. (J. Cortesão)

  • 2. Esta substituição pode ser um recurso de estilo, isto é, pode ser aconselhada pela clareza, pela eufonia, pelo ritmo do enunciado. Mas há casos em que a língua prefere o emprego da forma o qual.

Precisando melhor:

  • a) o relativo que emprega-se, preferentemente, depois das preposições monossilábicas a, com, de, em e por:
  • A noitinha em que nos encontramos e em que eu colhi os ramos de murta foi seguida do jantar, a que ela compareceu. (A. Peixoto)

  • b) as demais preposições simples, essenciais ou acidentais, bem como as locuções prepositivas, constroem-se, obrigatória ou predominantemente, com o pronome o qual:
  • É uma velha mesa esta sobre a qual bato hoje a minha crônica. (V. de Moraes)

  • c) o qual é também a forma usada como partitivo após certos indefinidos, numerais e superlativos:
  • O bloqueio do oceano distribuiu-se por três esquadras duas das quais dividiram entre si o litoral do Atlântico. (R. Barbosa)

Quem

Só se emprega com referência a pessoa ou alguma coisa personificada e vem sempre antecedido de preposição:

Há um amigo meu a quem apelidaram "Mal Necessário". (V. Moraes)

Cujo

É equivalente pelo sentido a do qual, de quem, de que. Emprega-se apenas como pronome adjetivo, referindo-se a um termo antecedente (o possuidor) e a um consequente (a coisa possuída). Concorda em gênero e número com o termo consequente.

Herculano é para mim, nas letras,depois de Camões, a figura em cujo espírito e em cuja obra sinto com plenitude o gênio heroico de Portugal. (G. Amado)

Quanto

Quanto, como simples relativo, tem por antecedente os pronomes indefinidos tudo, todos (ou todas). Daí o seu valor também indefinido:

Soprava dum lado, do outro, e tudo quanto foi de garrancho e folha seca se juntou num canto só. (L. Jardim)

Onde

  • 1. Como desempenha normalmente a função de adjunto adverbial (= o lugar em que, no qual), onde costuma ser considerado por alguns gramáticos advérbio relativo:
  • A casinha em que morei no Curvelo (e onde depois morou Raquel de Queirós) foi posta abaixo. (M. Bandeira)

  • 2. Embora a ponderável razão de maior clareza idiomática justifique o contraste que a disciplina gramatical procura estabelecer, na língua culta contemporânea, entre onde (= o lugar em que) e aonde (= o lugar a que), cumpre ressaltar que esta distinção, praticamente anulada na linguagem coloquial, nunca foi rigorosa nos clássicos.

Não é, pois, de estranhar o emprego de uma forma por outra em passos como os seguintes:

Vela ao entrares no porto
Aonde o gigante está! (F. Varela)

Espiando-se no pendor dos boqueirões profundos, /
Onde vinham ruir com fragor as cascatas. (O. Bilac)