- Capa
- 01. Fonética e Fonologia
- 02. Ortografia
- 03. Classe, estrutura, formação e significação das palavras
- 04. Derivação e composição
- 05. A oração e seus termos
- 06. Substantivo
- 07. Artigo
- 08. Adjetivo
- 09. Pronomes
- 10. Numerais
-
11. Verbo
- 11.01 Noções Preliminares
- 11.02 Flexões do Verbo
- 11.03 Classificação do Verbo
- 11.04 Conjugações
- 11.05 Tempos Simples
- 11.06 Verbos Auxiliares e o seu Emprego
- 11.07 Conjugação dos Verbos ter, haver, ser e estar
- 11.08 Formação dos Tempos Compostos
- 11.09 Conjugação dos Verbos Irregulares
- 11.10 Verbos de Particípio Irregular
- 11.11 Verbos Abundantes
- 11.12 Verbos Impessoais, Unipessoais e Defectivos
- 11.13 Sintaxe dos Modos e dos Tempos
- 11.14 Concordância Verbal
- 11.15 Regência
- 11.16 Sintaxe do Verbo haver
- 12. Advérbio
- 13. Preposição
- 14. Conjunção
- 15. Interjeição
- 16. O período e sua construção
- 17. Figuras de estilo
- 18. Discurso direto, discurso indireto e discurso indireto livre
- 19. Pontuação
- 20. Noções de versificação
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11.15 Regência
Em geral, as palavras de uma oração são interdependentes, isto é, relacionam-se entre si para formar um todo significativo.
A relação necessária que se estabelece entre duas palavras, uma das quais serve de complemento a outra, é o que se chama regência. A palavra dependente denomina-se regida, e o termo a que ela se subordina, regente.
As relações de regência podem ser indicadas:
a) pela ordem por que se dispõem os termos na oração;
b) pelas preposições, cuja função é justamente a de ligar palavras, estabelecendo entre elas um nexo de dependência;
c) pelas conjunções subordinativas, quando se trata de um período composto.
Regência verbal
1. Vimos que, quanto à predicação, os verbos nocionais se dividem em intransitivos e transitivos.
Os intransitivos expressam uma ideia completa:
O menino correu. | Paulo viajou. |
Os transitivos, mais numerosos, exigem sempre o acompanhamento de uma palavra de valor substantivo (objeto direto ou indireto) para integrar-lhes o sentido:
O menino comprou um livro.O velho carecia de roupa.
Paulo deu um presente ao amigo.
2. A ligação do verbo com o seu complemento, isto é, a regência verbal, pode, como nos mostram os exemplos citados, fazer-se:
a) diretamente, sem uma preposição intermédia, quando o complemento é objeto direto;
b) indiretamente, mediante o emprego de uma preposição, quando o complemento é objeto indireto.
Diversidade e igualdade de regência
Há verbos que admitem mais de uma regência. Em geral, a diversidade de regência corresponde a uma variação significativa do verbo. Assim:
Aspirar [= sorver, respirar] o ar de montanha.Aspirar [= desejar, pretender] a um alto cargo.
Alguns verbos, no entanto, usam-se na mesma acepção com mais de uma regência. Assim:
Meditar num assunto.Meditar sobre um assunto.
Outros, finalmente, mudam de significação, sem variar de regência. Assim:
Carecer [= não ter] de dinheiro.Carecer [= precisar] de dinheiro.
Observação:
No estudo da regência verbal, cumpre não esquecer os seguintes fatos:
1ª) O objeto indireto só não vem preposicionado quando é expresso pelos pronomes pessoais oblíquos me, te, se, lhe, nos, vos e lhes.
2ª) Somente as preposições que ligam complementos a um verbo (objeto indireto) ou a um nome (complemento nominal) estabelecem relações de regência. Por isso, convém distingui-las, com clareza, das que encabeçam adjuntos adverbiais ou adjuntos adnominais.
3ª) Os verbos intransitivos podem, em certos casos, ser seguidos de objeto direto. De regra, isso se dá quando o substantivo, núcleo do objeto, é formado da mesma raiz ou contém o sentido fundamental do verbo. Exemplos:
Viver uma vida alegre.Chorar lágrimas de amargura.
4ª) Também verbos transitivos costumam ser usados intransitivamente:
O pior cego é o que não quer ver.
Ele é manhoso: não afirma nem nega.
5ª) Muitas vezes, a regência de um verbo estende-se aos substantivos e aos adjetivos cognatos:
Obedecer ao chefe. | Contentar-se com a sorte. |
Obediência ao chefe. | Contentamento com a sorte. |
Obediente ao chefe. | Contente com a sorte. |
Regência de alguns verbos
aspirar
- 1º) é transitivo direto quando significa "sorver", "respirar":
- Arregaçou o focinho, aspirou o ar lentamente, com vontade de subir a ladeira e perseguir os preás, que pulavam e corriam em liberdade. (G. Ramos)
- 2º) é transitivo indireto na acepção de "pretender", "desejar". Neste caso, o objeto indireto vem introduzido pela preposição a (ou por), não admitindo a substituição pela forma pronominal lhe (ou lhes), mas somente por a ele(s) ou a ela(s):
- Aspiramos a uma terra pacífica. (C. D. de Andrade)
assistir
- 1º) Uma longa tradição gramatical ensina que este verbo é transitivo indireto no sentido de "estar presente", "presenciar". Com tal significado, deve o objeto indireto ser encabeçado pela preposição a, e, se for expresso por pronome de 3ª pessoa, exigirá a forma a ele(s) ou a ela(s), e não lhe(s). Assim:
- Da janela da cozinha as mulheres assistiam à cena. (R. de Queirós)
Observação:
Na linguagem coloquial brasileira, o verbo constrói-se, em tal acepção, de preferência com objeto direto (cf. assistir o jogo, um filme), e escritores modernos têm dado acolhida à regência gramaticalmente condenada. Sirva de exemplo este passo:
Só a menina estava perto e assistiu tudo estarrecida. (C. Lispector)
- 2º) é transitivo indireto na acepção de "favorecer", "caber (direito ou razão, a alguém)", e, neste caso, pode construir-se com a forma pronominal lhe(s):
- Ao dono da loja assiste razão de gabar-se, como o fez, por sua iniciativa. (C. D. de Andrade)
- 3º) Usa-se, indiferentemente, como transitivo direto ou indireto nos sentidos de "acompanhar", "ajudar", "prestar assistência", "socorrer":
- Somente minha mãe assiste o filho enfermo. (J. Montello)
- O dono da casa era um padre que lhe assistiu com muita caridade... (c. c. branco)
chamar
Ressaltem-se os seguintes valores e empregos:
- 1º) Com o significado de "fazer vir", "convocar", usa-se com objeto direto:
- O telefone interno tocou na copa; da portaria chamavam o dono da casa. (C. D. de Andrade)
- 2º) Na acepção de "invocar", pede objeto indireto encabeçado pela preposição por:
- Chamou por Mauro baixinho. (O. L. Resende)
- 3º) No sentido de "qualificar", "apelidar", "dar nome", constrói-se:
- a) com objeto direto + predicativo:
- Se tivesse mais dois anos, chamá-lo-ia mentiroso. (C. D. de Andrade)
- b) com objeto direto + predicativo (precedido da preposição de):
- Chamaram-no de mentiroso, de ingrato e de vítima. (C. D. de Andrade)
- c) com objeto indireto + predicativo:
- Não lhe chamam Glória? (J. de Alencar)
- d) com objeto indireto + predicativo (precedido da preposição de):
- Como Sofia no confessasse nada, Rubião chamou-lhe de bonita. (M. de Assis)
ensinar
- 1º) Na língua atual, constrói-se preferentemente com objeto direto de "coisa" e indireto de "pessoa":
- Ensinamos técnicas agrícolas aos camponeses. (R. Veríssimo)
- Não deviam ter-lhe ensinado isso. (R. Braga)
- 2º) Quando a "coisa" ensinada vem expressa por um infinitivo precedido da preposição a, a língua atual oferece-nos dois tipos de construção:
- a) ensinar-lhe + a + infinitivo.
- b) ensiná-lo + a + infinitivo.
- Em vão ensinara-lhe a proteger os animais das pragas e dos vendavais. (N. Piñon)
- Tinha de o convencer, de o ensinar a ver claro. (U. T. Rodrigues)
- 3º) Quando se silencia a "coisa" ensinada, a denominação da "pessoa" costuma funcionar como objeto direto:
- Uma moça formada de anel no dedo podia ensinar as meninas até o curso secundário. (J. L. do Rego)
- 4º) Nos sentidos de "castigar", "bater", "adestrar", "amestrar", "educar", usa-se normalmente com objeto direto:
- A tarimba é que viria ensiná-lo. (M. de Assis)
Comparem-se os exemplos:
esquecer
- 1º) Na acepção própria de "olvidar", "sair da lembrança", este verbo constrói-se, tradicionalmente:
- a) seja com objeto direto:
- Nunca esqueci esse amigo de infância. (P. Nava)
- b) seja com objeto indireto introduzido pela preposição de, quando pronominal:
- Tendo de lutar para obter melhoria de situação, foi-se esquecendo dos deveres religiosos. (C. D. de Andrade)
- 2º) Do cruzamento destas duas construções resultou uma terceira, sem o pronome reflexivo, mas com o objeto introduzido por de:
- 1º) Usa-se, indiferentemente, como transitivo direto ou indireto, nas acepções de "dizer respeito a", "importar", "ser proveitoso", "ser do interesse de":
- Pensei que os interessasse estar ao corrente disto. (C. de Oliveira)
- E eu calculei que talvez a transação lhe interessasse. (G. Ramos)
- 2º) é transitivo direto quando significa: "captar ou prender o espírito, a atenção, a curiosidade"; "excitar a":
- Ele percebeu então que falara demais, a ponto de interessá-la, e olhou-a rapidamente de lado. (C. Lispector)
- 3º) Emprega-se com objeto indireto introduzido pela preposição em nos sentidos de "ter interesse", "tirar utilidade, lucro ou proveito":
- O rei interessava em que os concelhos fossem poderosos e livres. (A. Herculano)
- 4º) é transitivo direto e indireto quando significa "atrair", "provocar o interesse ou a curiosidade de":
- Foi fácil para ele interessar toda a cidade na incrível figurinha de Shirley Temple. (A. Dourado)
- 5º) No sentido de "empenhar-se", "tomar interesse por", tem forma reflexa e faz-se acompanhar de objeto indireto encabeçado por uma das preposições em ou por:
- Zazá não se interessava muito pelo futebol. (R. Couto)
- 1º) Com o sentido de "trazer à lembrança", "evocar", "sugerir", "recordar-se" é transitivo direto:
- Lembro-a hoje, com os seus cabelos brancos... (A. F. Schmidt)
- 2º) Na acepção de "sugerir a lembrança", "fazer recordar", "advertir", constrói-se com objeto direto e indireto:
- Para me lembrar ao senhor? Para lembrá-lo a mim? Nosso entendimento se tornou tão fácil que dispensa a operação da lembrança. (C. D. de Andrade)
- 3º) Com o sentido de "vir à memória", que é o mais usual, admite, à semelhança de esquecer, três modelos de construção:
- a) Lembro-me do acontecimento.
- b) Lembra-me o acontecimento.
- c) Lembra-me do acontecimento.
- 1º) Na língua culta de hoje constrói-se preferentemente com objeto direto de "coisa" e objeto indireto de "pessoa":
- Perdoem-lhe esse riso. (M. de Assis)
- 2º) A construção com objeto direto de "pessoa", normal no português antigo e médio, é frequente na linguagem coloquial brasileira, razão por que alguns escritores atuais não têm dúvida de acolhê-la.
- A velha tia Neném não perdoava ninguém. (J. L. do Rego)
- 1ª) Na acepção de "dar resposta", "dizer ou escrever em resposta", emprega-se, geralmente:
- a) com objeto indireto em relação à pergunta:
- Livros especializados responderiam à pergunta. (C. D. de Andrade)
- b) com objeto direto para exprimir a resposta:
- Um país em que ninguém responde cartas, Mário de Andrade respondia todas. (C. D. de Andrade)
- ... um violento panfleto contra o Brasil que foi vitoriosamente respondido por De Ângelis. (E. Prado)
- c) com objeto direto e indireto:
- Quando lhe perguntei por que motivo ninguém o via há um mês, respondeu-me que estava passando por uma transformação. (M. de Assis)
- 2ª) Na acepção de "replicar", "retorquir", usa-se, normalmente, com objeto indireto:
- À linguagem do deputado o jovem médico respondeu com igual franqueza. (M. de Assis)
- O homem da venda não responde. Vira a cara. (R. Braga)
- 3ª) Na acepção de "repetir a voz, o som", é intransitivo:
- Um cão latiu, outro respondeu. (J. Montello)
- 4a) Quando significa "ser ou ficar responsável", "responsabilizar-se", "fazer as vezes (de alguém)", exige objeto indireto introduzido pela preposição por:
- Parecia que outro personagem respondia por ele, a fim de deixá-lo à vontade. (A. M. Machado)
- 1º) é transitivo direto nas acepções de:
- a) "mirar", "apontar (arma de fogo)":
- Sem perda de tempo, Jenner disparou um terceiro tiro, e sem demora outro, visando o alvo de baixo para cima. (H. Sales)
- b) "dar ou pôr o visto (em algum documento)":
- Visar um passaporte.
- Visar o diploma.
- 2º) No sentido de "ter em vista", "ter por objetivo", "pretender" deve construir-se com objeto indireto introduzido pela preposição a:
- Seus negócios atualmente visam ao monopólio do vidro. (M. Rebelo)
Esqueceu os deveres religiosos Esqueceu-se dos deveres religiosos |
Esqueceu dos deveres religiosos |
Tal construção, considerada viciosa pelos gramáticos, mas muito frequente no colóquio diário dos brasileiros, já se vem insinuando na linguagem literária, principalmente quando o complemento de esquecer é um infinitivo. Sirva de exemplo este passo:
Rezou três ave-marias e um padre-nosso, pois o bom frei esquecera de lhe dar a penitência. (J. Amado)
interessar
lembrar
O verbo lembrar(-se) apresenta os mesmos tipos de construção que o seu antônimo esquecer(-se). Assim:
O primeiro é o mais frequente, seja na linguagem coloquial, seja na literária:
Lembra-te, Belmiro, de que essas bodas são impossíveis. (C. dos Anjos)Quando o objeto indireto vem expresso por uma oração desenvolvida, como no último exemplo, a preposição de pode faltar:
Lembro-me que certa vez juntei uma porção de artigos médicos sobre o assunto. (R. Braga)
Lembro-me que devo voltar à missa solene. (A. F. Schmidt)
obedecer
1º) Na língua culta moderna, fixou-se como transitivo indireto:
Por que lhe obedeciam as forças? (G. Amado)
2º) Admite, no entanto, voz passiva:
Sofreste tanto que até perdeste a consciência do teu império; estás pronta a obedecer, admiras-te de seres obedecida. (M. de Assis)
3º) Não é raro o seu emprego como intransitivo:
Você é o único que não obedece! (C. Lispector)
Idêntica é a construção do antônimo desobedecer.
perdoar
responder
Entre as diversas construções que admite, apontem-se as seguintes:
Podendo, naturalmente, usar-se na passiva:
Não é raro, porém, o emprego intransitivo:
visar
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