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19.01 Sinais que marcam sobretudo a pausa


A vírgula

A vírgula marca uma pausa de pequena duração. Emprega-se não só para separar elementos de uma oração, mas também orações de um só período.

  • 1. No interior da oração serve:
    • 1º) Para separar elementos que exercem a mesma função sintática (sujeito composto, complementos, adjuntos), quando não vêm unidos pelas conjunções e, ou e nem:
    • As nuvens, as folhas, os ventos não são deste mundo. (A. Meyer)
    • Ela tem sua claridade, seus caminhos, suas escadas, seus andaimes. (C. Meireles)
    • No céu fosco, pelo vão da janela, as estrelas ainda brilhavam. (C. D. de Andrade)

    • 2º) Para separar elementos que exercem funções sintáticas diversas, geralmente com a finalidade de realçá-los. Em particular, a vírgula é usada:
      • a) para isolar o aposto, ou qualquer elemento de valor meramente explicativo:
      • Ele, o pai, é um mágico. (Adonias Fillho)

      • b) para isolar o vocativo:
      • Moço, sertanejo não se doma no brejo. (J. A. de Almeida)

      • c) para isolar o adjunto adverbial antecipado:
      • Depois de algumas horas de sono, voltei ao colégio. (R. Pompeia)

      • d) para isolar os elementos repetidos:
      • Ficou branquinha, branquinha. Com os desgostos humanos. (O. Bilac)

    • 3º) Emprega-se ainda a vírgula no interior da oração:
      • a) para separar, na datação de um escrito, o nome do lugar:
      • Teófilo Otoni, 10 de maio de 1917.

      • b) para indicar a supressão de uma palavra (geralmente o verbo) ou de um grupo de palavras:
      • Veio a velhice; com ela, a aposentadoria. (H. Sales)

  • 2. Entre orações, emprega-se a vírgula:
    • 1º) Para separar as orações coordenadas assindéticas:
    • Levantava-me, passeava, tamborilava nos vidros das janelas, assobiava. (M. de Assis)

    • 2º) Para separar as orações coordenadas sindéticas, salvo as introduzidas pela conjunção e:
    • Cessaram as buzinas, mas prosseguia o alarido nas ruas. (A. M. Machado)

Observações:

  • 1ª) Separam-se por vírgula as orações coordenadas unidas pela conjunção e, quando têm sujeito diferente. Exemplo:
  • O silêncio comeu o eco, e a escuridão abraçou o silêncio. (G. Figueiredo)

  • Costuma-se também separar por vírgula as orações introduzidas por essa conjunção quando ela vem reiterada:

  • Trabalha, e teima, e lima, e sofre, e sua! (O. Bilac)

  • 2ª) Das conjunções adversativas, mas emprega-se sempre no começo da oração; porém, todavia, contudo, entretanto e no entanto podem vir ora no início da oração, ora após um dos seus termos. No primeiro caso, põe-se uma vírgula antes da conjunção; no segundo, vem ela isolada por vírgulas:
  • — Vá aonde quiser, mas fique morando conosco.
  • — Vá aonde quiser, porém fique morando conosco.
  • — Vá aonde quiser, fique, porém, morando conosco.

  • Em virtude da acentuada pausa que existe entre as orações acima, podem ser elas separadas, na escrita, por ponto e vírgula. Ao último período é mesmo a pontuação que melhor lhe convém:

  • — Vá aonde quiser; fique, porém, morando conosco.

  • 3ª) Quando conjunção conclusiva, pois vem sempre posposta a um termo da oração a que pertence e, portanto, isolada por vírgulas:
  • Não pacteia com a ordem; é, pois, uma rebelde. (J. Ribeiro)


  • As demais conjunções conclusivas (logo, portanto, por conseguinte, etc.) podem encabeçar a oração ou pospor-se a um dos seus termos. À semelhança das adversativas, escrevem-se, conforme o caso, com uma vírgula anteposta, ou entre vírgulas.

  • 4º) Para isolar as orações intercaladas:
  • — Se o alienista tem razão, disse eu comigo, não haverá muito que lastimar o Quincas Borba. (M. de Assis)

  • 5º) Para isolar as orações subordinadas adjetivas explicativas:
  • Pastor, que sobes o monte,
    Que queres galgando-o assim? (O. Mariano)

  • 6º) Para separar as orações subordinadas adverbiais, principalmente quando antepostas à principal:
  • Quando tio Severino voltou da fazenda, trouxe para Luciana um periquito. (G. Ramos)

  • 7º) Para separar as orações reduzidas de gerúndio, de particípio e de infinitivo, quando equivalentes a orações adverbiais:
  • Não obtendo resultado, indignou-se. (G. Ramos)
  • Acocorado a um canto, contemplava-nos impassível. (E. da Cunha)
  • Ao falar, já sabia da resposta. (J. Amado)

Observações:

  • 1ª) Toda oração ou todo termo de oração de valor meramente explicativo pronunciam-se entre pausas; por isso, são isolados por vírgula, na escrita.

  • 2ª) Os termos essenciais e integrantes da oração ligam-se uns com os outros sem pausa; não podem, assim, ser separados por vírgula. Esta a razão por que não é admissível o uso da vírgula entre uma oração subordinada substantiva e a sua principal.

  • 3ª) Há uns poucos casos em que o emprego da vírgula não corresponde a uma pausa real na fala; é o que se observa, por exemplo, em respostas rápidas do tipo: Sim, senhor. Não, senhor.

O ponto

  • 1. O ponto assinala a pausa máxima da voz depois de um grupo fônico de final descendente. Emprega-se, pois, fundamentalmente, para indicar o término de uma oração declarativa, seja ela absoluta, seja a derradeira de um período composto:
  • Nada pode contra o poeta. Nada pode contra esse incorrigível que tão bem vive e se arranja esse meio aos destroços do palácio imaginário que lhe caiu em cima. (A. M. Machado)

  • 2. Quando os períodos (simples ou compostos) se encadeiam pelos pensamentos que expressam, sucedem-se uns aos outros na mesma linha. Diz-se, neste caso, que estão separados por um ponto simples.

  • Observação:

    O ponto tem sido utilizado pelos escritores modernos onde os antigos poriam ponto e vírgula ou mesmo vírgula.

    A música toca uma valsa lenta. O desânimo aumenta. Os minutos passam. A orquestra se cala. O vento está mais forte. (E. Veríssimo)

  • 3. Quando se passa de um grupo a outro grupo de ideias, costuma-se marcar a transposição com um maior repouso da voz, o que, na escrita, se representa pelo ponto parágrafo. Deixa-se, então, em branco o resto da linha em que termina um dado grupo ideológico, e inicia-se o seguinte na linha abaixo, com o recuo de algumas letras:

  • Lá embaixo era um mar que crescia.

    Começara a chuviscar um pouco. E o carro subia mais para o alto, com destino à casa de Amâncio, que era a melhor da redondeza. (J. L. do Rego)


  • 4. Ao ponto que encerra um enunciado escrito dá-se o nome de ponto final.

O ponto e vírgula

1. Como o nome indica, este sinal serve de intermediário entre o ponto e a vírgula, podendo aproximar-se ora mais daquele, ora mais desta, segundo os valores pausais e melódicos que representa no texto. No primeiro caso, equivale a uma espécie de ponto reduzido; no segundo, assemelha-se a uma vírgula alongada.


2. Esta imprecisão do ponto e vírgula faz que o seu emprego dependa substancialmente do contexto. Entretanto, podemos estabelecer que, em princípio, ele é usado:

  • 1º) Para separar num período as orações da mesma natureza que tenham certa extensão:
  • Não sabe mostrar-se magoada; é toda perdão e carinho. (M. de Assis)

  • 2º) Para separar partes de um período, das quais uma pelo menos esteja subdividida por vírgula:
  • Chamo-me Inácio; ele, Bendito. (M. de Assis)

  • 3º) Para separar os diversos itens de enunciados enumerativos (em leis, decretos, portarias, regulamentos, etc.), como estes que iniciam o Artigo 1º da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional:

    • Art. 1º A educação nacional, inspirada nos princípios de liberdade e nos ideais de solidariedade humana, tem por fim:
      • a) a compreensão dos direitos e deveres da pessoa humana, do cidadão, do Estado, da família e dos demais grupos que compõem a comunidade;
      • b) o respeito à dignidade e às liberdades fundamentais do homem;
      • c) o fortalecimento da unidade nacional e da solidariedade internacional;
      • d) o desenvolvimento integral da personalidade humana e a sua participação na obra do bem comum;
      • (...)

Valor melódico dos sinais pausais

Dissemos que a vírgula, o ponto e o ponto e vírgula marcam sobretudo — e não exclusivamente — a pausa. No correr do nosso estudo, ressaltamos até algumas das suas características melódicas. É o momento de sintetizá-las:


a) o ponto corresponde sempre à final descendente de um grupo fônico;
b) a vírgula assinala que a voz fica em suspenso, à espera de que o período se complete;
c) o ponto e vírgula denota em geral uma débil inflexão suspensiva, suficiente, no entanto, para indicar que o período não está concluído.