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09.04 Pronomes Possessivos

Os pronomes possessivos acrescentam à noção de pessoa gramatical uma ideia de posse. São, de regra, pronomes adjetivos, equivalentes a um adjunto adnominal antecedido da preposição de (de mim, de ti, de nós, de vós, de si), mas podem empregar-se como pronomes substantivos:

Meu livro é este.
Este livro é o meu.
Sempre com suas histórias!
Fazer das suas.

Formas dos pronomes possessivos

Os pronomes possessivos apresentam três séries de formas, correspondentes à pessoa a que se referem. Em cada série, estas formas variam de acordo com o gênero e o número da coisa possuída e com o número de pessoas representadas no possuidor.

    Um possuidor Vários Possuidores
     
um objeto
vários objetos
um objeto
vários objetos
1ª pessoa


Masculino

Feminino


meu

minha


meus

minhas


nosso

nossa


nossos

nossas
2ª pessoa


Masculino

Feminino


teu

tua


teus

tuas


vosso

vossa


vossos

vossas
3ª pessoa


Masculino

Feminino


seu

sua


seus

suas


seu

sua


seus

suas

Concordância do pronome possessivo

  • 1. O pronome possessivo concorda em gênero e número com o substantivo que designa o objeto possuído; e em pessoa, com o possuidor do objeto em causa:
  • Pensava em ti. Ante meus olhos ávidos
  • tua imagem sorria. (A. de Oliveira)

  • 2. Quando um só possessivo determina mais de um substantivo, concorda com o que lhe esteja mais próximo:
  • Rubião estacara o passo; ela pôde vê-lo bem, com seus gestos e palavras, o peito alto, e uma barretada que deu em volta. (M. de Assis)

Posição do pronome adjetivo possessivo

O pronome adjetivo possessivo precede normalmente o substantivo que determina, como nos mostram os exemplos até aqui citados. Pode, no entanto, vir posposto ao substantivo:

  • 1º) quando este vem desacompanhado do artigo definido:
  • Soube por José Veríssimo que estranhou a ausência de cartas minhas. (E. da Cunha)

  • 2º) quando o substantivo já está determinado (pelo artigo indefinido ou por numeral, por pronome demonstrativo ou por pronome indefinido):
  • Recebi, no Rio, no dia da posse no Instituto um telegrama seu, de felicitações... (E. da Cunha)

  • 3º) nas interrogações diretas:
  • Onde estais, cuidados meus? (M. Bandeira)

  • 4º) quando há ênfase:
  • Perdão para os crimes meus!... (Castro Alves)

Emprego ambíguo do possessivo de 3ª pessoa

As formas seu, sua, seus, suas aplicam-se indiferentemente ao possuidor da 3ª pessoa do singular ou da 3ª pessoa do plural, seja este possuidor masculino ou feminino.

O fato de o possessivo concordar unicamente com o substantivo denotador do objeto possuído provoca, não raro, dúvida a respeito do possuidor.

Para evitar qualquer ambiguidade, o português nos oferece o recurso de precisar a pessoa do possuidor com a substituição de seu(s), sua(s) pelas formas dele(s), dela(s), de você, do senhor e outras expressões de tratamento. Por exemplo, a frase:

Em encontro com Rosa, José fez comentários sobre os seus exames.
tem um enunciado equívoco: os comentários de José podem ter sido feitos sobre os exames de Rosa; ou sobre os exames dele, José; ou, ainda, sobre os exames de ambos. Assim sendo, o locutor deverá expressar-se, conforme a sua intenção:
Em encontro com Rosa, José fez comentários sobre os exames dela (ou dele ou deles).

Reforço dos possessivos

O valor possessivo destes pronomes nem sempre é suficientemente forte. Quando há necessidade de realçar a ideia de posse — quer visando à clareza, quer à ênfase —, costuma-se reforçá-los:

  • a) com a palavra próprio ou mesmo:
  • Era ela mesma; eram os seus mesmos braços. (M. de Assis)

  • b) com as expressões dele(s), dela(s), no caso do possessivo da 3ª pessoa:
  • Montaigne explica pelo seu modo dele a variedade deste livro. (M. de Assis)

Valores dos possessivos

O pronome possessivo não exprime sempre uma relação de posse ou pertinência, real ou figurada. Na língua moderna, tem ele assumido múltiplos valores, por vezes bem distanciados daquele sentido originário.

Mencione-se o seu emprego:

  • a) como indefinido:
  • A senhora há de ter tido seus apertos de dinheiro, disse Rubião. (M. de Assis)

  • b) para indicar aproximação numérica:
  • Entrou uma mulherzinha de seus quarenta anos, decidida e de passo firme. (F. Sabino)

  • c) para designar um hábito:
  • Era lindo o bicho, com sua calma de passarinho manso. (R. Braga)

Valores afetivos

  • 1. Variados são os matizes afetivos expressos pelos possessivos. Servem, por vezes, para acentuar um sentimento:
    • a) de deferência, de respeito, de polidez:
    • — Não posso deixá-lo um instante, meu Fidalgo. (A. Arinos)

    • b) de intimidade, de amizade:
    • — Dispõe de mim, meu velho, estou às suas ordens, bem sabes. (A. Azevedo)

    • c) de simpatia, de interesse (com referência a personagem de uma narrativa, a autor de leitura frequente, a clubes ou associações de que seja sócio ou aficionado, etc.):
    • — Não sei para onde vou mandar o meu herói... — disse com um falso sorriso. (E. Veríssimo)

    • d) de ironia, de malícia, de sarcasmo:
    • Na mesa do major jantei o meu frango, comi a minha boa posta de robalo, trabalho que afundou em mais de duas horas. (J. C. de Carvalho)

    Observe-se que, nos dois últimos casos, o possessivo vem normalmente acompanhado do artigo definido.

  • 2. De acentuado caráter afetivo é também a construção em que uma forma feminina plural do pronome completa a expressão fazer (ou dizer) das = praticar uma ação ou dizer algo particular, geralmente passível de crítica:
  • — Você andou por aí fazendo das suas. (L. Lins do Rego)

Nosso de modéstia e de majestade

Paralelamente ao emprego do pronome pessoal nós por eu nas fórmulas de modéstia e de majestade que estudamos, aparece o do possessivo nosso(a) por meu (minha).

Comparem-se estes exemplos:

  • a) de modéstia:
  • Este livro nada mais pretende ser do que um pequeno ensaio. Foi nosso escopo encontrar apoio na história do Brasil, na formação e crescimento da sociedade brasileira, para colocar a língua no seu verdadeiro lugar: expressão da sociedade, inseparável da história da civilização. (S. da Silva Neto)

  • b) de majestade:
  • Mandamos que os ciganos, assi homens como mulheres, nem outras pessoas, de qualquer nação que sejam, que com eles andarem, não entrem em nossos Reinos e Senhorios. (Ordenações Filipinas, livro V, título 69.)

Vosso de cerimônia

O uso do pronome pessoal vós como tratamento cerimonioso aplicado a um indivíduo ou a um auditório qualificado leva, naturalmente, a igual emprego do possessivo vosso(a). Exemplos:

Levareis, Senhores Delegados, aos vossos Governos, à vossa Pátria, estas declarações que são a expressão sincera dos sentimentos do Governo e do Povo Brasileiro. (Barão do Rio Branco)

Substantivação dos possessivos

Os possessivos, quando substantivados, designam:

  • a) no singular, o que pertence a uma pessoa:
  • A rapariga não tinha um minuto de seu. (A. Rangel)

  • b) no plural, os parentes de alguém, seus companheiros, compatriotas ou correligionários:
  • Peço-lhe que não desampare os meus. (M. de Assis)

Emprego do possessivo pelo pronome oblíquo tônico

Em certas locuções prepositivas, o pronome oblíquo tônico, que deve seguir a preposição e com ela formar um complemento nominal do substantivo anterior, é normalmente substituído pelo pronome possessivo correspondente. Assim:

em frente de ti = em tua frente
ao lado de mim = ao meu lado
em favor de nós = em nosso favor
por causa de você = por sua causa