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18.02 Discurso Indireto

Tomemos como exemplo esta frase de Machado de Assis:

José Dias deixou-se estar calado, suspirou e acabou confessando que não era médico.


Ao contrário do que observamos nos enunciados em discurso direto, o narrador (Machado de Assis) incorpora aqui, ao seu próprio falar, uma informação do personagem (José Dias), contentando-se em transmitir ao leitor apenas o conteúdo, sem nenhum respeito à forma linguistica que teria sido realmente empregada.

Este processo de reproduzir enunciados chama-se discurso indireto.

Características do discurso indireto

  • 1. No plano formal, verifica-se que, introduzidas também por um verbo declarativo (dizer, afirmar, ponderar, confessar, responder, etc.), as falas dos personagens aparecem, no entanto, numa oração subordinada substantiva, em geral desenvolvida:
  • Disse-me ele que sentiu uma verdadeira transfiguração da realidade. (A. A. Lima)

  • Nestas orações, como vimos, pode ocorrer a elipse da conjunção integrante:

  • Como supunha fôssemos ter ainda uma quinzena de atividade e pudéssemos esgotar o programa, demorara-me alguns dias em Machado e Eça. (C. dos Anjos)

  • 2. No plano expressivo, assinale-se, em primeiro lugar, que o emprego do discurso indireto pressupõe um tipo de relato de caráter predominantemente informativo e intelectivo, sem a feição teatral e atualizadora do discurso direto. O narrador subordina a si o personagem, visto que lhe retira a forma própria da expressão.

Transposição do discurso direto para o indireto

  • 1. Do confronto destas duas frases:
  • — Já é noite, diz Chico das Bonecas. (Adonias Fillho)
  • Chico das Bonecas disse que já era noite.

  • verifica-se que, ao passar-se de um tipo de relato para outro, certos elementos do enunciado se modificam, por acomodação ao novo molde sintático.


  • 2. As principais transposições que ocorrem são:
  • Discurso Direto Discurso Indireto
    a) enunciado em 1ª ou em 2ª pessoa:
    O motorista respondeu-lhe baixinho:
    — Eu sei. (C. D. de Andrade)
    — Falaste com o Dr. Assis Brasil? — perguntou Rodrigo. (E. Veríssimo)
    a) enunciado em 3ª pessoa: O motorista respondeu-lhe baixinho que ele sabia.

    Rodrigo perguntou se [ele] havia falado com o Dr. Assis Brasil.
    b) verbo enunciado no Presente:
    - O major é um filósofo, disse ele com malícia. (L. Barreto)
    b) verbo enunciado no Pretérito Imperfeito:
    Disse ele com malícia que o major era um filósofo.
    c) verbo enunciado no Pretérito Perfeito:
    Explicou para curiosidade de todos:
    — Chamou pelo irmão. (O. de Faria)
    c) verbo enunciado no Pretérito Mais-que-perfeito:
    Explicou para curiosidade de todos que tinha chamado pelo irmão.
    d) verbo enunciado no Futuro do Presente:
    — Voltarei domingo — disse. (Adonias Fillho)
    d) verbo enunciado no Futuro do Pretérito:
    Disse que voltaria domingo.
    e) verbo no Modo Imperativo:
    — Não faças escândalo — disse a outra (O. Lins)
    e) verbo no Modo subjuntivo:
    Disse a outra que não fizesse escândalo.
    f) enunciado em forma interrogativa direta:
    Quaresma perguntou:
    — Como vai a família? (L. Barreto)
    f) enunciado em forma interrogativa indireta:
    Quaresma perguntou como ia a família.
    g) pronome demonstrativo de 1ª (este, esta, isto) ou de 2ª pessoa (esse, essa, isso):
    — Isso é um número muito comprido, respondeu Cesária.
    g) pronome demonstrativo de 3ª pessoa (aquele, aquela, aquilo):

    Cesária respondeu que aquilo era um número muito comprido.
    h) advérbio de lugar aqui:
    — Aqui amanhece muito claro
    — disse Sales. (C. Soromenho)
    h) advérbio de lugar ali:
    Disse Sales que ali amanhecia muito claro.