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20.05 Poemas de forma fixa

Há poemas que têm uma forma fixa, isto é, submetida a regras determinadas quanto à combinação dos versos, das rimas ou das estrofes. Assim o soneto, o rondó, o rondel, a balada, o cantoreal, o vilancete, a vilanela, a sextina, o pantum, o haicai e a quadra popular. Dentre eles, merece um comentário particular o soneto por sua longa vitalidade em várias literaturas, inclusive na portuguesa e na brasileira.

O soneto

Há duas variedades de soneto: o soneto italiano e o soneto inglês.

1. Compõe-se o soneto italiano de quatorze versos, geralmente decassílabos ou alexandrinos, agrupados em duas quadras e dois tercetos.

As rimas das quadras são as mesmas. Um par de rimas serve a ambas, segundo um dos dois esquemas: abba-abba, abab-abab.


2. Nos tercetos podem combinar-se duas ou, mais frequentemente, três rimas.

Quando há apenas duas rimas, dispõem-se elas normalmente de forma alternada: cdc-dcd. Se as rimas são três, distribuem-se em geral nos esquemas:

1º) ccd-eed, empregado preferentemente por Florbela Espanca, a exemplo destes tercetos de Languidez:


  • Fecho as pálpebras roxas, quase pretas,
  • Que pousam sobre duas violetas,
  • Asas leves cansadas de voar...

  • E a minha boca tem uns beijos mudos...
  • E as minhas mãos, uns pálidos veludos,
  • Traçam gestos de sonho pelo ar...

2º) cdc-ede, que se documenta nos tercetos de Lar paterno, de Belmiro Braga:


  • Serras virentes, que não mais transponho,
  • Na retina fiel ainda eu vos tenho,
  • E revejo, através de um brando sonho,

  • A casa onde nasci, as mansas reses,
  • A várzea, o laranjal, a horta, o engenho
  • E a cruz onde rezei por tantas vezes...

3º) cde-cde, que aparece nestes tercetos de Zulmira, de Raimundo Correia:


  • Não sei porque chorando toda a gente,
  • Quando Zulmira se casou, estava:
  • Belo era o noivo... que razões havia?

  • A mãe e a irmã choravam tristemente;
  • Só o pai de Zulmira não chorava...
  • E era o pai, afinal, quem mais sofria!

Estas as principais disposições rímicas do soneto italiano, ou seja, da forma tradicional deste breve e afortunado poema.

3. O soneto inglês, modernamente introduzido nas literaturas de língua portuguesa, também consta de quatorze versos, mas distribuídos em três quadras e um dístico final, que se escrevem sem espacejamento. Obedece a um dos dois esquemas:

  • a) abab bcbc cdcd ee;
  • b) abab cdcd efef gg.

  • Na literatura inglesa, o primeiro tipo é conhecido por soneto spenseriano (spenserian sonnet), por ter sido cultivado inicialmente pelo poeta Edmund Spenser (1552?-1599); o segundo denomina-se soneto shakespeariano (Shakespearean sonnet) ou, simplesmente, soneto inglês (English sonnet) por se haver tornado a forma mais usual do poema desde que dela se serviu o genial dramaturgo nos 154 espécimes do gênero que nos legou.

    De Manuel Bandeira é este soneto shakespeariano:

    Soneto inglês no 2
    • Aceitar o castigo imerecido,
    • Não por fraqueza, mas por altivez.
    • No tormento mais fundo o teu gemido
    • Trocar num grito de ódio a quem o fez.

    • As delícias da carne e pensamento
    • Com que o instinto da espécie nos engana
    • Sobpor ao generoso sentimento
    • De uma afeição mais simplesmente humana.

    • Não tremer de esperança nem de espanto.
    • Nada pedir nem desejar, senão
    • A coragem de ser um novo santo
    • Sem fé num mundo além do mundo. E então

    • Morrer sem uma lágrima, que a vida
    • Não vale a pena e a dor de ser vivida.